HISTÓRIA DA CULTURA DO CAFÉ NO BRASIL
Leopoldo Costa
O cafeeiro pertence a família das Rubiáceas, existindo mais de 70 espécies conhecidas, porém, economicamente duas espécies são importantes, uma delas é o Coffea arabica, que é originário da Etiópia (Abissinia), e o outra é o Coffea canephora, o café robusta, de origem centro africana.
A difusão do Coffea arabica ocorreu a partir do Iêmen, na Península Arábica, onde foi introduzido em 1500.
Diz a lenda que foi na cidade de Kaffa no ano de 575 a.C., que Kaldi, um pastor de cabras, certa tarde viu que suas cabras ficavam mais espertas e saltitantes ao comer as folhas e os frutos, parecidos com cerejas, de um arbusto do sopé da montanha. Curioso, ele experimentou alguns frutos do mesmo arbusto e se sentiu mais alegre e vivaz. Colheu outros frutos e levou-os ao mosteiro que existia nas proximidades. Depois, de mastigar os frutos alguns monges sentiram uma diferença no comportamento e o abade temeroso pelos efeitos, atirou os outros frutos no fogo, dizendo que eram coisas do demônio. Os frutos jogados ao fogo se torraram, exalando um perfume gostoso que inebriou a todos. O abade permitiu que os monges resgatassem os grãos torrados, fizeram uma infusão e tomaram a bebida que os permitiu ficar acordados nas rezas e nos longos períodos de vigília. A infusão recebeu o nome de ‘kahwah’ ou ‘cahue’ que significa ‘força’ e foi adotada como bebida do mosteiro.
Outra lenda conta que Maomé achava-se doente e com muita sonolência. Recebeu a visita do anjo Gabriel que lhe deu uma bebida preta e amarga (café?) que depois de bebê-la voltou a ficar mais animado e sem sono.
Na medicina Árabe, a bebida era indicada contra a sonolência, para cura de dores de cabeça, tosse e estimulante cerebral. Tinha indicação também como auxiliar da digestão, para aliviar complicações menstruais, combater vermes e varias outras moléstias.
Consta-se que a primeira cafeteria foi aberta em Meca, porém sem registro histórico confiável. Constantinopla tem a primazia com o registro de uma cafeteria em 1550. Como os Muçulmanos não tomam vinho, cerveja e outras bebidas alcoólicas, o café as substituía.
O café como bebida foi descoberto pelos Europeus que tinham contato comerciais com os Árabes, sendo abertas cafeterias em Veneza (1591), em Londres (1652), em Marselha (1661) e em Viena (1683). A primeira cafeteria em Paris foi aberta em 1672 por Pascal Armeniano. Pelo sucesso, em 1720 já existiam 380 cafeterias públicas na cidade.
Os Holandeses foram os primeiros a iniciar o cultivo comercial do cafeeiro no Ceilão (hoje Sri Lanka) em 1658 e depois em Java em 1699, sendo que em 1706 já estavam fazendo a primeira exportação de café em grão para a Europa.
Em 1714 o rei Luis XIV da França (1638-1715) ganhou de presente uma muda de cafeeiro que foi cultivado numa estufa. Quando deu flores e frutos estes foram colhidos cuidadosamente e enviados como sementes para a ilha de Reunião, que na época era conhecida como ilha de Bourbon, devido ao seu clima, mais apto para a cultura da rubiácea. Mais tarde, em 1723, o militar francês Gabriel Mathieu Declieux levou dali umas mudas para a ilha de Martinica no Caribe, que adaptou-se bem e em 1777 a ilha já possuía muitos pés de café. Foi da Martinica que saíram clandestinamente, as mudas que deram origem as plantações de café na Jamaica (1732), no México (1740) e na Venezuela (1784). Neste ínterim, os Holandeses trouxeram de Java para o Suriname (que era sua colônia) também algumas mudas. Do Suriname mudas e sementes clandestinamente chegaram à Guiana Francesa, que faz fronteira com ele.
As primeiras sementes de café foram trazidas para o Brasil em 1727 por Francisco de Melo Palheta (n.1670), na época um militar a serviço do governador do Maranhão João da Maia da Gama (m.1731) e procederam da Guiana Francêsa [1]. Recebera-as como presente das mãos de Madame d’Orvilliers, esposa do governador de Caiena, de quem Francisco seria amante. A saída de sementes e mudas de café da colônia francesa era proibida e quem fosse pego com mudas e sementes era preso e poderia ser condenado à morte.
A província do Pará foi a primeira a cultivar os cafeeiros. O próprio Palheta teve uma lavoura em Belém. Também Agostinho Domingues, com sementes e mudas obtidas de Palheta, plantou a sua lavoura. Em 1748 a província já contava com 17 mil pés de café.
Segundo Ana Luísa Martins, historiadora e autora do livro ‘História do Café’,
‘era semente rara e cobiçada pelo crescente potencial econômico nos mercados europeus. Convinha ao Brasil, então colônia de Portugal, desenvolver mais este produto para fins de exploração comercial.[2]’Em 1731, foi registrado um pequeno embarque de café do Maranhão para Lisboa. Relatou Luis Amaral no seu livro ‘História Geral da Agricultura Brasileira’:
‘Enquanto em dezembro de 1731 o governador paraense escrevia para Lisboa, referindo a cafeeiros nos quintais, e dizendo tratar-se de ‘gênero novo na terra, de que dentro de um ou dois anos se remeterão arrobas para Portugal’, em janeiro desse mesmo ano de 1731 a Gazeta de Lisboa Ocidental já anunciara que ‘nos últimos navios que chegaram do Maranhão veio algum café, que se descobriu no sertão daquele estado, ainda de melhor qualidade que o do Levante; e se assegura que deste que se colheu havia carga para vinte navios’. Só no ano seguinte, pela barca Santa Maria, é que vão para Lisboa, sete libras de café paraense, a título de amostra.’
No ano de 1777, o Estado do Maranhão e Grão Pará já exportava o equivalente a 2.224$540, em 1779 exportou 79 arrobas (20 sacas), aumentando para 2.125 sacas em 1796 e 20.500 sacas em 1806.
Em 1730/1731 foi estabelecida a bolsa de café em Nova York.
Em 1780, pequenos cafezais eram cultivados na Bahia.
No município de São Paulo, no final do século XVIII, já se plantava café. Em 26 de fevereiro de 1794, José Arouche de Toledo Rendon (1756-1834), escreveu ao seu irmão Diogo de Toledo Lara e Ordonhes que estava viajando em Portugal, que tinha embarcado ‘um caixote de café da Casa Verde.’ A família possuía uma fazenda de café na região de Casa Verde, hoje um bairro de São Paulo.
Do Pará foram levadas duas mudas em 1760[3], para o Rio de Janeiro, por João Gualberto Castelo Branco, desembargador da Relação, iniciando a plantação na Tijuca. Os demais fazendeiros não tiveram interesse na novidade, pois se dedicavam ao cultivo rendoso de cana de açúcar.
Apenas o imigrante holandês Van Mooke, se interessou. Depois de um tempo tinha 100.000 pés de café na periferia da cidade do Rio de Janeiro. O sucesso foi observado pelos vizinhos e muitos, paralelamente ao cultivo da cana, passaram também a plantar café. O padre Antonio Lopes da Fonseca e o bispo José Joaquim Justiniano mais tarde enviaram mudas para Resende, no interior da província. Em 1792, na fazenda do Capão em Inhaúma, o bispo já estava colhendo 160 arrobas de café por ano.
Dali foram tiradas mudas e sementes que deram origem as primeiras plantações em São Gonçalo e Resende, e mais tarde em 1780, as lavouras em Areias, Bananal, Pindamonhangaba e Taubaté.
Escreveu Afonso d’Escragnolle Taunay (1876-1958) no livro ‘Pequena História do Café no Brasil’:
‘(...) deu-se, segundo parece em 1760, a chegada das mudas do chanceler Castelo Branco ao Rio de Janeiro. Pretendem alguns autores que o primeiro cultivo da rubiácea em terras fluminenses foi o holandês João Hoppmann, dono de uma grande chácara em Mata Porcos, então nos subúrbios do Rio. Dizem outros que esses pioneiros da cafeicultura foram os Capuchinhos iItalianos, ou Barbonos, em sua chácara hoje desaparecida, pois, corresponde a uma parte do coração da cidade[4]. O ilustre botânico Freire Alémão perfilha esta versão. Documentou-a contando que a plantação dos Capuchinhos foi de 1762, e a de Hoppmann, de 1770 e realizada a instâncias do vice-rei marquês de Lavradio.’
Em 1761, um decreto régio, isentava de impostos, as exportações de café, o que foi um grande incentivo à expansão da cultura, induzindo outras pessoas para esta atividade. Tropeiros que tinham acumulado fortuna, formaram suas fazendas, expulsando os índios Puris, Sucurus e Coroados que habitavam a região do vale do Paraíba do Sul.
Assim a primeira região cafeeira foi o vale do rio Paraíba do Sul fluminense, onde foi iniciada a cultura a partir de meados do século XVIII e depois, o vale paulista do mesmo rio, na cidade de Areias no ano de 1762. 90% do total de café brasileiro era produzido no vale do rio Paraíba do Sul. Em 1836 produziu 102.797 arrobas sendo a região de maior produção do Brasil. Bananal produzia 64.882 arrobas e Jacareí produzia 54.000 arrobas[5].
Guaratinguetá tinha 40 fazendas de café e produziu 22.442 arrobas.
O mais rico fazendeiro era Francisco de Assis e Oliveira Borges (1806-1879), barão e visconde de Guaratinguetá, que possuía 375 escravos.
O mais rico fazendeiro era Francisco de Assis e Oliveira Borges (1806-1879), barão e visconde de Guaratinguetá, que possuía 375 escravos.
Em Lorena, residia outro grande cafeicultor, Joaquim José Moreira Lima (1842-1926), visconde e conde de Moreira Lima, que tinha 52 fazendas espalhadas pelo vale do Paraíba paulista e fluminense (Resende), como também no sul de Minas Gerais (Itajubá).. Lorena em 1836 possuía 62 fazendas e 2.000 escravos. Em 1886 já havia 106 fazendas e 2.370 escravos.
O café do vale fluminense do Paraíba do Sul era transportado em carros de bois ou no lombo das mulas para os pequenos portos de Parati e Angra dos Reis, de onde era encaminhado ao Rio de Janeiro em pequenos barcos, para ser embarcado para a Europa em navios maiores.
No cenário econômico nacional, foi no ano de 1816 que a cultura cafeeira ganhou importância ao lado do algodão e da cana de açúcar. Em 1817, o rei João VI (1767-1826), com o objetivo de propiciar condições à expansão da cultura do café na região central do Brasil, providenciou a vinda de Moçambique de agumas mudas e sementes de café, que foram cultivados em viveiros e depois doadas a fazendeiros interessados.
Em 1809, já era plantado em Campinas, na província de São Paulo, as primeiras lavouras de café, mas, a cultura continuou inexpressiva até 1835/1836, quando a produção do município atingiu 808 arrobas. As plantações de cana de açúcar eram predominantes. Só a partir de 1850, quando foram colhidas 200.000 arrobas, é que a cultura do café suplantou a cultura da cana de açúcar.
Segundo Roberto Simonsen (1889-1948), entre 1816 e 1822, foram embarcadas uma média anual de 2 milhões de arrobas (30.000 toneladas) de café pelo porto do Rio de Janeiro.
Para Caio Prado Jr.(1907-1990)[6], no período de 1821 a 1830 foram exportadas 3.178.000 sacas de 60 kg o que representa a média anual de 19.068 toneladas:
Período | Exportação em Tons. |
1821/1830 | 190.680 |
1831/1840 | 625.800 |
1841/1850 | 1.102.020 |
1851/1860 | 1.640.348 |
1861/1870 | 1746.180 |
1871/1880 | 1.950.540 |
1881/1890 | 3.097.860 |
1891/1900 | 4.469.460 |
1901/1910 | 7.835.940 |
1911/1920 | 7.230.180 |
1921/1930 | 8.371.920 |
1931/1940 | 8.801.263 |
1941/1950 | 8.291.931 |
1951/1960 | 9.036.906 |
A partir de 1840 o café se tornou o item mais importante das exportações do Brasil e alavancava a nossa economia.
Durante o período de quatro décadas, de 1830 a 1870, o município de Vassouras (RJ) foi a ‘capital do café’. Até o ano de 1840 os maiores produtores de café continuavam localizados no vale do rio Paraíba do Sul fluminense e paulista.
De 1840 a 1865 as plantações de café expandiram-se para o sul do Espírito Santo, Zona da Mata e Sul de Minas Gerais.
A mão de obra escrava era essencial para o desenvolvimento da cultura do café, pois todas as operações eram manuais. Na época da colheita, era necessário um contingente maior de mão de obra do que nas outras etapas da produção..
Além de importar escravos diretamente da África, o que foi permitido até o ano de 1850, uma grande quantidade de escravos era comprada no Nordeste, dos senhores de engenhos que estavam em decadência.
Em 1850 na região cafeeira fluminense, um escravo adulto (peça) custava entre 500 e 600 mil réis e em 1880 o seu preço disparou para 3 contos de réis. Cada escravo, fiscalizado por feitor, tinha que a obrigação de cuidar de 1.000 a 1.500 pés de café.
Até 1870, quando foram introduzidos os primeiros equipamentos mecânicos para descascamento do café, a operação era feita em monjolos ou em pilões de madeira, na maioria utilizando mão de obra de escravas negras. Cada fazenda empregava entre 400 e 500 escravos.
A abolição da escravatura em 1888, provocou uma crise na cafecultura. Muitos fazendeiros passaram a apoiar os republicanos e este poderoso apoio político, pode ter antecipado a proclamação da República (1899).
Escreveu Alves Motta Sobrinho no livro ‘ A Civilização do Café’ sobre a falta de mão de obra após a abolição da escravatura:
'Com a falta de mão de obra e o desaparecimento dos velhos cafézais, a pecuária ocupou seu lugar nas fazendas. As antigas famílias locais instalaram-se na capital ou mudaram-se para as novas regiões. Os mineiros, pecuaristas de leite e gado de corte, vão comprando as velhas propriedades decadentes (...) acabam com os restos de cultura, erradicam os cafezais, transformam tudo em pasto, neles soltando os bois.’No ano de 1854, o cultivo de café no Brasil suplantou a cana de açúcar. Existiam 2.618 fazendas de café, que geraram uma produção no valor de 10.461.178$000 e 657 fazendas de cana de açúcar que geraram uma produção no valor de 1.630.000$000 .
Em 1869, o porto de Santos passou a superar o porto do Rio de Janeiro em volume de exportação de café.
Em 1847, o senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro (1778-1839), providenciou a vinda da Europa de 364 famílias de imigrantes alemães, suíços e belgas, para trabalhar na sua fazenda em Ibicaba, próximo de Limeira, na província de São Paulo. Contratados pelo sistema de parceria recebiam parte da produção como pagamento. O fazendeiro adiantava a todos os interessados, os recursos necessários à sua vinda, instalação e manutenção, até ocorrer a primeira colheita. Cada família podia manter lavouras de milho e outros gêneros de primeira necessidade.. Os adiantamentos e os juros eram descontados em parcelas nos lucros recebidos nas colheitas, o que fazia que poucos recebessem alguma quantia representativa. A experiência fracassou também, por que como os imigrantes tinham que trabalhar ao lado dos escravos, recebiam o mesmo tratamento rude dos capatazes. Houve protestos o que desestimulou a vinda de mais imigrantes. Em 1857 os colonos se rebelaram, sendo necessária a intervenção da policia.
Um dos lideres dos rebeldes foi o suíço Thomas Davatz, que retornando á Suíça publicou o livro ‘Memórias de um Colono no Brasil’, onde descreveu com detalhes a vida de penúrias dos colonos europeus no Brasil. O livro teve tanta repercussão na Europa, que em 1859 o governo da Prússia, proibiu a emigração de Prussianos para o Brasil. Esta proibição foi estendida para toda a Alemanha em 1871, depois, da supremacia prussiana sobre todo o território.
(ao lado reproduzimos um cartaz veiculado na época)
(ao lado reproduzimos um cartaz veiculado na época)
O sistema de parceria adotado por Vergueiro mostrou-se ineficaz e em 1860, D. Pedro II iniciou o sistema de imigração subvencionada. Neste sistema, o governo reembolsaria as despesas de viagem do imigrante e de sua família e os fazendeiros se responsabilizariam pela manutenção da família já instalada no Brasil, durante o primeiro ano. Os colonos recebiam um salário fixo e uma parte variável de acordo com a produção auferida. Como poucos fazendeiros tinham condições de arcar com todos os custos, foi autorizado financiamento oficial, lastreado por apólices do governo provincial. O sistema foi bem aceito, e em 1874 chegaram cerca de 20.000 imigrantes, em parte ajudado pelas restrições impostas pelo governo dos Estados Unidos, à entrada de imigrantes europeus. Anotações indicam que em 1888 o Brasil já tinha recebido cerca de 200.000 colonos italianos.
Em 1854, a cidade de Bananal era a maior produtora de café do Brasil. Neste ano produziu 554.600 arrobas. Em 1860/1861 produziu-se mais de um milhão de arrobas.
Antonio Clemente Pinto (1795-1869), 1º barão de Nova Friburgo, foi um dos mais prósperos cafeicultores do Rio de Janeiro. Possuía 20 fazendas de cultura e entre 1858 e 1865 construiu o imponente palácio do Catete no Rio de Janeiro, para ser a sua residência[7]. O palácio foi desapropriado em 1896 pelo governo federal, para ser a residência oficial do presidente da república, permanecendo como tal até a transferência da capital para Brasília em 1960.
De 1856 a 1860 o café representava 49% do total de exportação do Brasil, na década de 1910 representava 65%, atingindo o recorde na década de 1920 com 70%[8].
Os carros de bois, quando as estradas permitiram, eram o meio de transporte de café, até o advento das estradas de ferro. Quando as estradas eram apenas trilhas, só as mulas conseguiam passar. Mesmo após a construção das ferrovias, os carros de bois continuaram a ser o veiculo que transportava as sacas de café das fazendas até as estações e com as esteiras de bambu trançado e apoiadas pelos ‘fueiros’, coletava das lavouras o café colhido para ser seco nos terreiros. O transporte representava 1/3 do custo final de uma saca de café.
Na preparação das terras para a cultura, o boi era usado para tracionar os arados. Em geral, todas as fazendas cafeeiras reservavam uma área para a criação de gado ou tinham que adquirir os animais que necessitava de criadores especializados na criação e treinamento de bois carreiros. Um bom boi carreiro era caro e cada carro usava em média três juntas, o que precisava ser aumentado para quatro juntas ou mais se as condições das estradas eram difíceis (montanhas e terrenos lamacentos), o que ocorria frequentemente no interior do Rio de Janeiro e em Minas Gerais. No final do século XIX, com o Brasil produzindo uma média de 6.500.000 de sacas de café, estima-se que cerca de 950.000 bois eram usados na produção e transporte do produto.
A maior parte do café do vale do rio Paraíba do Sul paulista seguia para o porto do Rio de Janeiro em lombo de burro por uma estrada em péssimas condições com muitos morros a serem enfrentados, um deles com nome bem apropriado de morro de Quebra Cangalha.
Depois da década de 1870[9],com a instalação das primeiras ferrovias, os cafezais alcançaram o interior paulista. Campinas, Sorocaba, Piracicaba e Rio Claro se destacaram como grandes municípios produtores e depois, com as férteis terras vermelhas, Ribeirão Preto tornou-se o polo da sua cultura. Nestas áreas usava-se apenas mão de obra de imigrantes e maquinários mais modernos para o seu beneficiamento. Francisco Schmidt (1850-1924), imigrante alemão radicado na região, foi o maior produtor durante décadas.
No período de 1820 a 1960, entraram no Brasil 5.433.878 imigrantes[10] na sua maioria, italianos (30%), portugueses (32%) e espanhóis (13%), principalmente para trabalhar na lavoura de café (cerca de 2/3 deste total).
A cidade de São Paulo apresentou acelerado crescimento impulsionado pelo café. Em 1840 a população da cidade era de apenas 20.000 habitantes, alcançou 65.000 habitantes em 1890 e 240.000 habitantes em 1900.
Em 1890, havia no estado de São Paulo 200 milhões de cafeeiros e quinze anos depois, em 1905 já existiam 689 milhões, mais que o triplo. Em 1918 existiam 828 milhões, 949 milhões em 1924 e 1 bilhão e 155 milhões em 1930.
Em 1890, havia no estado de São Paulo 200 milhões de cafeeiros e quinze anos depois, em 1905 já existiam 689 milhões, mais que o triplo. Em 1918 existiam 828 milhões, 949 milhões em 1924 e 1 bilhão e 155 milhões em 1930.
Em 1902, foi feita a primeira tentativa de controlar a produção de café, tendo os países produtores, liderados pelo Brasil, concordado em estabelecer o sistema de cotas.
Em 1906, os principais produtores e governadores dos estados cafeeiros se reuniram em Taubaté, estado de São Paulo, e estabeleceram um acordo sobre a política do café, devendo os fazendeiros controlar a oferta para firmar os preços e adequar o volume ofertado a demanda dos países importadores. Apesar das promessas, não surtiu efeito prático.
Em 1906, os principais produtores e governadores dos estados cafeeiros se reuniram em Taubaté, estado de São Paulo, e estabeleceram um acordo sobre a política do café, devendo os fazendeiros controlar a oferta para firmar os preços e adequar o volume ofertado a demanda dos países importadores. Apesar das promessas, não surtiu efeito prático.
No inverno de 1918, uma violenta geada de apenas uma noite, destruiu 400 milhões de pés de café no estado de São Paulo.
Em 1936, foi criado o ‘Bureau Internacional do Café’ e na sua 3ª Conferência Mundial em 1943, foi assinado acordo de controle de produção, que vigorou até 1948.
A última conferência do ‘Bureau’ em 1958, decidiu-se extinguir o 'Bureau' e criar a ‘Organização Internacional do Café’, do qual faziam parte países produtores e importadores. Os produtores aceitaram estabelecer cotas de exportação e os importadores aceitaram observar os preços mínimos.
Em setembro de 1959 foi firmado o ‘Convenio Internacional do Café’ (CIC), entre 15 produtores latino-americanos, mais Portugal e França representando as suas colônias africanas, com o objetivo de buscar o equilíbrio entre a oferta e a demanda.
Em 1962, foi substituído por outro convenio que com o apoio da ONU, congregava a maioria dos produtores e importadores reforçando a importância da ‘Organização Internacional do Café’ com sede em Londres.
Os cafezais se expandiram na direção oeste desbravando o fértil norte do Paraná.
A primeira grande crise aconteceu em 1909, quando apenas a produção brasileira superava todo o consumo mundial. Os fazendeiros endividaram-se com empréstimos e mesmo com a valorização do produto a partir de meados da década, tiveram que hipotecar as suas fazendas para garantia das dividas ou vendê-las. As casas comissárias e os banqueiros foram os grandes beneficiados da crise. A Prado Chaves, uma das grandes casas comissárias, tornou-se proprietária neste período, de 14 fazendas com 3.500.000 pés de cafés.
Consumo Mundial de Café
Periodo | Estados Unidos | Europa |
1909 a 1913 | 39 % | 55 % |
1935 a 1939 | 50 % | 42 % |
1945 a 1949 | 69 % | 21 % |
Depois da Primeira Guerra Mundial, ocorreu nova crise no mercado do café. A saca que era cotada a 7 libras ouro em julho de 1919, valia apenas 2 libras em março de 1921. Três anos mais tarde, em fins de 1924, os preços recuperaram, atingindo 6 libras por saca.
Em 1925, os produtores criaram em São Paulo o 'Instituto do Café' e em 1927 foi celebrado um convênio entre os estados produtores, para reduzir as ofertas e proteger os preços.
Em 1928 o Brasil produzia 78% do café do planeta e havia excesso de produto no mercado. O mundo estava em crise econômica que culminou com o 'crack' da Bolsa de Valores de Nova York em 1929. O presidente Washington Luís (1869-1957) decidiu impor cotas de produção a cada estado e estes deveriam impor também quotas a cada produtor. Não teve o sucesso esperado, devido aos inúmeros casos de corrupção dos fiscais e de 'apadrinhamento' político.
A quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929 desestruturou totalmente o comércio internacional, afetando sobremaneira as exportações de café do Brasil. O ano de1929 para muitos historiadores é a data que determina o final do Ciclo do Café. O preço em 1933 desabou para apenas 1,8 libras por saca. Nesta grande crise muitos fazendeiros faliram ou endividados tiveram que entregar suas fazendas aos bancos financiadores e aos agiotas.
O governo federal procurando diminuir a pressão de oferta no mercado mundial e manter os preços estáveis, na década de 30 comprou e queimou cerca de 78 milhões de sacas de café já prontas para embarque, quase um terço da produção brasileira. Neste período crítico, em 1933, foi criado o ‘Departamento Nacional do Café’ com o objetivo de controlar a produção e administrar os estoques. Fez isso a seu modo até 1946, quando foi extinto e para substituí-lo foi criado em 1952, o ‘Instituto Brasileiro do Café’, extinto em 1990, pelo presidente Fernando Collor de Mello (n.1949).
[1] R. Haddock Lobo in ‘Historia Contemporânea e História do Brasil’ citou o ano de 1723. Segundo Veiga Cabral in ‘Corografia do Brasil’ existem outras datas como 1730 e 1760. As datas são imprecisas devido até a própria biografia de Palheta. Não se tem registro de quando morreu. Monsenhor Pizarro in ‘Memórias Historicas do Rio de Janeiro’ defende a tese, que nos tempos do reinado de D. Manoel I, o Venturoso (1469-1521), o café já prosperava no Brasil.
[2] Em entrevista ao jornal ‘Estado de Minas’ no dia 19 de julho de 2008.
[3] Alves Mota Sobrinho in ‘ A Civilização do Café’ cita a data de 1774.
[4] A chácara dos Capuchinhos ficava nas proximidades da atual rua Evaristo da Veiga.
[5] Dados mostrados no livro ‘A Civilização do Café’ de Alves Mota Sobrinho citando o Relatorio do Marechal Daniel Muller.
[6] Caio Prado Jr. in ‘História Economica do Brasil’.
[7] Construido entre 1860 e 1864 pelo arquiteto Gustavo Weschneld. Em 1890 passou a pertencer a Companhia Grande Hotel Internacional e depois a Francisco de Paula Mayrinck, de quem foi desapropriado em 1896. Foi adaptado para ser a sede do governo pelo arquiteto Aarão Reis ( o que criou a cidade de Belo Horizonte) e uma equipe de auxiliares.
[8] Alice Canabrava, na ‘A Grande Lavoura’, in ‘Historia Geral da Civilização Brasileira’ cita as seguintes estatísticas sobre a participação do café na pauta de exportações brasileiras: período 1841/1850 foi de 41.4% , enquanto o açúcar foi de 26,7%, no período de 1851/1860 café 48,8% açúcar 21,2%, período de 1861/1870 café 45,5% açúcar 12,3%, no período de 1871 a 1880 café 56,6 % açúcar 11,8% e em 1881 café 61,5% e açúcar 9,9%.
[9] A primeira foi a Estrada de Ferro Santos a Jundiaí inaugurada em 1867.
[10] IBGE e Diretoria de Estatistica Economica e Financeira do Tesouro Nacional.
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