HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DE GADO NA GRÉCIA ANTIGA

Leopoldo Costa

A Grécia antiga compreendia três regiões: a do Norte onde se localizava a Tessália e Épiro, a de Hélade onde se localizava a Ática, Etólia e Beócia e a do Peloponeso onde se localizava a Messênia, Lacônia, Arcádia e Argólida.
Os primitivos habitantes eram os Pelasgos.

Por volta de 3.000 a.C várias povoações de agricultores se estabeleceram no território grego.
No período de 1.600 a.C a 1.200 a.C iniciaram-se as migrações de povos pastores para a região, como os Aqueus, Jônios e os Dórios que falavam uma língua comum e dominavam a arte da metalurgia.

Os Aqueus e Jônios predominaram sobre os outros grupos, e em torno de 1.500 a.C. edificaram fortalezas que mais tarde se transformaram em cidades como Micenas, Tirinto, Pilos, Gia e Atenas. Iniciaram as relações comerciais com Tróia, Sicilia e outras cidades da península Itálica. Fundaram colônias em Mileto, Rodes, Lícia, Panfilia, Cilicia e Chipre.

A classe dos guerreiros tornou-se a dominante e com arrogância consideravam os agricultores e os pastores como indivíduos de segunda classe.

A partir de 1.200 a.C ,com a migração de Beócios, Tessálios e mais Dórios, os núcleos urbanos mais uma vez, foram se formando ao redor das fortalezas e logo se transformaram em comunidades políticas autônomas, como Ática, Argos, Atenas, Esparta, Tebas, Mileto e Corinto. Estas comunidades estabeleceram relações comerciais entre si e passaram também a colonizar e a escravizar outros povos vizinhos.

Na Arcádia, remota região nas montanhas do Peloponeso, em pleno período clássico, ainda se praticavam sacrifícios humanos.

Todas as comunidades gregas partilhavam orgulhosamente da herança comum que era a língua. Amavam a sua língua e o povo gostava de ficar ouvindo os versos dos poetas declamados em praça publica.  

Os Gregos, ao contrário de outros povos, não se ajoelhavam e nem se humilhavam ante os seus deuses. Para não perder a autoestima adoravam-nos de pé e acreditavam que os deuses eram da mesma categoria deles. Os gregos antigos nutriam uma grande afeição pela sabedoria, reflexão, entre muitas outras atividades relativas ao pensamento.

Houve a guerra de Tróia que segundo a lenda  provocada pelo rapto de Helena, esposa de Menelau, rei de Amicléia (futura Esparta) por Paris, príncipe de Tróia. Tróia foi sitiada durante 10 anos pelos exércitos gregos sob o comando de Agamenon.
Homero tratou dela no seu poema ‘Ilíada’. Ele também escreveu a ‘Odisséia’ onde relata o acidentado retorno de Ulisses (Odysseus em grego) e seus companheiros depois, da guerra com os Troianos.
Na obra, Homero relata que a principal ocupação dos helenos era a criação de gado e o cultivo de cereais.

A partir de 750 a.C a população da Grécia cresceu e o comércio expandiu-se, provocando guerras internas entre as cidades autônomas pela disputa da hegemonia.

A alimentação desempenhava um papel importante para os Gregos e logo surgiram entre os pensadores e sábios, aqueles que sobre o assunto, vieram a produzir interessantes textos. Na alimentação adequada viam o meio mais eficaz de combater a doença, opondo-se aos desequilíbrios do organismo.

Hipócrates (460-377 a.C.), médico de Cós, deteve-se sobre questões de alimentação, compondo um conjunto de recomendações sobre o assunto.  

Filotimo, também médico, aconselhava o consumo da carne de animais adultos por ser melhor do que a dos animais jovens e obviamente escreveu que a pior era a carne dos animais velhos.

Esparta ficou conhecida pela severidade dos hábitos dos seus habitantes, fazendo até que a palavra ‘espartano’ tenha hoje esta conotação. Nos banquetes públicos era distribuído carne de porco assada, vinho, um pedaço de pão e uma porção de sopa de centeio.

Na comédia ‘Os Cavaleiros’ de Aristófanes, o personagem principal é um salsicheiro (allantopóles em grego), que aparece em cena com um recipiente cheio de embutidos.

Os Romanos apelidavam os Gregos de ‘comedores de cevada’. No campo, a cevada era consumida em grãos descascados e cozidos que depois eram secos. Como os grãos tinham casca grossa, era preciso torrá-los, pilá-los e depois, moê-los num moinho manual formado de duas mós de pedra, uma fixa e outra móvel. Da farinha assim obtida faziam bolos e uma espécie de mingau, semelhante ao ‘pulmentum’ dos Romanos.

Hipócrates esclarece no seu ‘Regime’, que a cevada não era consumida sob a forma de pão, mas sim como ‘maza’, que era preparada com cevada pré-cozida e reduzida a farinha. Adicionava-se azeite e condimentos, amassando-se tudo cuidadosamente. A ‘maza’, estava assim pronta para ser assada e consumida.

Com a farinha de sêmola e hortelã-pimenta, era preparado o ‘cyceon’, bebida sagrada e popular. Não obstante o extenso rol de aplicações da cevada, a dieta grega era diversificada. Consumia-se também trigo, painço, grão de bico, favas e lentilhas, além das carnes, o que trataremos posteriormente.

A terra cultivável pertencia ao cidadão e era explorado em pequenos lotes, não havendo latifúndios. As oliveiras nativas espalhavam-se pelos campos e junto com as videiras caracterizavam a paisagem rural.

Homero informa que os tribunais condenavam a morte, as pessoas que destruíssem os olivais.

Durante o período Micênico, na Argólia, região montanhosa da Grécia, algumas terras eram cultivadas por agricultores que recebiam salários do governo, mas, a maioria dos agricultores preferia pagar um tributo anual ao governo e cultivá-las diretamente. Plantavam trigo e cevada e produziam azeite de oliva, vinho e figo.

A criação de gado bovino era importante e algumas raças da Europa ocidental, tiveram origem em animais provenientes da região do Peloponeso.
Isto pode ser confirmado pela presença da figura de bois e vacas nas representações artísticas encontradas pelos arqueólogos. 

A importância do bovino na civilização grega está presente inclusive nos nomes de lugares: o radical ‘boes’ significando ‘bovino’ consta de Beócia (Boeotia) e de Eubéia (Euboea).

Os gregos denominaram de ‘Bósforo’ o estreito que liga o mar Negro ao mar de Marmara e separa a Europa da Ásia (hoje na Turquia), que significa ‘passagem de bois’. A denominação foi dada pela possibilidade de atravessar os bois por nado ou andando pela parte mais rasa entre as duas extremidades do estreito.

Para preservar a carne  que sobrava para ser consumida no futuro, usavam secar, salgar e defumar. O mesmo era feito com os peixes.

Entre as carnes consumidas tinham o javali, o veado, a lebre, a raposa, o porco-espinho, o pombo, a perdiz, a galinha e o ganso.  Menos comum, e mais dado a ocasiões festivas, era o consumo de carne de cachorro, criados especialmente para esta finalidade.

Rodeados por mares repletos de peixe e frutos do mar, os antigos gregos, foram grandes apreciadores destes alimentos. Os atuns salgados, as enguias, os salmonetes, os polvos, as douradas, os pargos e os congros são citados com frequência nos textos gregos.

Para os Gregos uma refeição, mesmo a mais simples, tinha que ser convenientemente acompanhada de vinhos. Amadurecido em ânforas, estes vinhos, tornaram os gregos, conhecidos no mundo antigo por esta arte. O vinho não era tomado puro e sim diluído em água na proporção de duas partes de água por uma parte de vinho.
Viam os Gregos na alimentação um meio de nutrir e fortalecer os homens para a guerra, mas também reconheciam nos períodos de paz, os prazeres da boa mesa.  

Em ‘A Paz’ de Aristófanes, o personagem Trigeu traz-nos o seguinte: ‘Do que gosto não é dos combates, mas, sentando ao canto, junto da fogueira, de beber ao desafio com os camaradas (...) grelhar grão de bico, assar bolotas de faia, ao mesmo tempo que me enrolo com a Thattra (a escrava) enquanto a minha mulher se lava (...). Vamos, mulher, põe a grelhar tres fatias de queijo com grãos de trigo, à mistura, e traz os figos. Diz para irem buscar a minha casa um tordo e dois tentilhões’.

Uma das primeiras descrições da vida agrícola-pastoril dos gregos nos tempos antigos foi feita por Hesíodo no seu poema  ‘Trabalhos e Dias’, escrito no século VII a.C.
Nessa obra fora outras considerações ele conta que os agricultores plantavam cevada e trigo em outubro, pois plantando no outono as lavouras tinham chuvas suficientes para desenvolver.

Eram usados arados de madeira guarnecidos com ferro (antes era bronze) e puxados por bois ou mulas.

A colheita acontecia em abril ou maio sendo depois os grãos debulhados.

Menciona a criação de gado como bastante comum na Grécia antiga. Eram criados caprinos, ovinos e suínos.  Dos caprinos e ovinos era obtido leite, queijo e carne. Dos ovinos também se aproveitava a lã e dos suínos apenas a carne.

Outras fazendas maiores criavam bovinos, asininos e equinos. A criação de cavalos, direcionada ao uso da classe dominante, era feita com grande esmero e com cruzamentos controlados para melhoramento das raças.

Tessália era a região especializada na criação de equinos que eram alimentados com milheto.

Bovinos eram usados, conjuntamente com os assininos para a lida agrícola. Bovinos, caprinos e suínos eram muito usados em sacrifícios aos deuses.
Em Atenas, o desjejum era simples: um pedaço de pão embebido em vinho. No almoço era repetido o cardápio, sendo o jantar mais generoso: pão, vinho, queijo de cabra e verduras. Carne de carneiro só nas festividades, quando sobrava carne de sacrifícios nos altares dos templos.

Os cozinheiros gregos eram homens livres, que vangloriavam em dizer que tiveram como antepassado Cadmus (?2000 a.C.), fundador de Tebas e inventor da escrita. Era uma profissão lucrativa e respeitada.

Os gregos prezavam os banquetes, criticando os povos que nunca, ou apenas ocasionalmente o faziam. Para eles o banquete era uma manifestação artística. Viam nesta manifestação à mesa, a afirmação da civilização.

Nos banquetes gregos primeiro comia-se e depois, se bebia. Faziam-no reclinados em divãs diante dos quais se colocavam as mesas; o corpo repousava sobre mantas o cotovelo era suportado por uma almofada. O serviço era feito pelos escravos da casa.

Na Ilíada, de Homero, está descrito um banquete, em que participavam os heróis consumindo assados e outras iguarias.
Outros autores descrevem nas suas obras o consumo de presunto, de toucinho e de salsichas e linguiças e outros embutidos.

No campo a vida era difícil, por vezes faltavam-se alimentos. As moradias não possuíam a opulência das vilas romanas, mas atendiam às necessidades da população rural.

Os cavalos eram criados para a prática esportiva, os ovinos eram criados para produzir lã, as cabras para fornecer leite e os bovinos para puxar os arados e as carroças. Apenas o porco era criado com o objetivo de fornecer carne.

Em Atenas existia uma lei que proibia o abate de cabritos e cordeiros, muito requisitados na época. Era para não prejudicar o crescimento do rebanho.

Escreveu Idel Becker na ‘Pequena Historia da Civilização Ocidental’: ‘por tudo isso, (predominância de terrenos rochosos e escarpados) a criação de gado tornava-se muito importante na economia grega. Criava-se gado miúdo; porcos, cabras e ovelhas (animais não muito exigentes em matéria de forragem). Nas planícies da Tessália e de Argólide, pastavam cavalos’.

A dieta era reforçada pela caça de javalis, cervos, lebre, raposa, cachorros do mato e até do ouriço-caixeiro. Os bovinos, os suínos, os ovinos e também os cães eram consumidos depois, que eles eram oferecidos em sacrifício.

O sacrifício preferido pelos deuses Ceres, Marte e Cibele era de leitões, criados exclusivamente para este fim.
Os bois brancos eram sacrificados em honra a Zeus e os bois pretos em honra a Hades.
Os bois pretos eram encarregados em puxar as carruagens da Morte na sua representação pictórica que também era um atributo da Noite.  
Nos rituais dedicados a Felicidade, as novilhas eram coroadas com flores e jóias e levadas em procissão com muitas danças e música.

Também possuíam muitas colméias para produzir mel.

Era proibido abater o boi que ainda pudesse trabalhar na lavoura. O crime era severamente punido em Atenas e tinha o nome de 'bovicidio'. Só os bois velhos podiam ser abatidos.

A fabricação de queijos na Grécia já era bem conhecida no tempo de Homero. Hipócrates, em seus escritos, refere-se ao queijo de leite de égua e também de leite de cabra.

Os gregos para diminuir a distância para as naus que vinham do oeste com destino à Atenas, construíram os 'dolkos' sobre o istmo de Corinto (8,5 km). Estes 'dolkos' eram pranchas de madeira onde as naus eram arrastadas por juntas de bois, poupando a circunavegação do Peloponeso.

Para os gregos, o comércio marítimo era mais importante que o terrestre, negociando com os mais diversos pontos do Mediterrâneo e das proximidades, conseguindo transportar um volume maior de mercadorias a um custo menor.

Os navios gregos partiam no início da primavera, geralmente com vinte marinheiros e uma carga de frutas secas, vinho, azeite, lã e artesanatos. Trazia de volta trigo, carne salgada, queijo, peixe seco, metais e manufaturados (telha de Corinto, móveis de Mileto, tapetes da Pérsia, tecidos do Egito e Mégara e perfumes da Arábia).




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