A FASE HISTÓRICA DO PASTOREIO
Leopoldo Costa
O homem existe na terra à cerca de um milhão de anos, mas apenas nos últimos 10.000 anos é que se interessou-se pela domesticação das plantas e dos animais.
No início do período Neolítico (cerca de 8.000 a.C), quando terminou a última Era Glacial, o clima da terra aqueceu, possibilitando o aparecimento das pastagens. Os animais herbívoros multiplicaram bastante como foi o caso dos caprinos e ovinos. Com o aumento da população dos herbívoros e com dificuldade de encontrar alimentação para todos, começaram a se aproximar e atacar as incipientes plantações de cereais dos agricultores.
Inicialmente foram rechaçados e depois passaram a capturá-los para serem abatidos e a carne ser usada como alimento.
Mais tarde, os agricultores começaram a escolher alguns animais de maior interesse e a domesticá-los, para melhor conviver e tirar proveito deles. A domesticação dos animais de pequeno porte foi mais fácil, mas a domesticação dos bovinos foi sem dúvida bem mais difícil. Tiveram que atrair os auroques para serem capturados e domá-los, o que exigiu muito mais esforço. O esforço valeu a pena, pois, além dos produtos que os outros herbívoros ofereciam, eles podiam ser treinados para pisotear os feixes de trigo, separando os grãos da palha, e como animal de tiro, para tracionar as cargas, pois ainda não conheciam a roda.
Os animais em cativeiro procriavam e viviam próximos as habitações, confinados em rústicos cercados ou em liberdade vigiada em terrenos limitados por acidentes geográficos naturais intransponíveis (cursos d’água, montanhas ou desfiladeiros).
Surgiu assim a fase do pastoreio, quando o homem passou a se preocupar com os rebanhos que possuía como reserva alimentar e tinha que ficar pastoreando-os para evitar que predadores ou membros de outra tribo não usassem essa reserva em seu beneficio. Deste rebanho obtinham como alimento o leite e a carne. As peles eram usadas para a fabricação de vestimentas e agasalhos e os ossos dos animais abatidos eram usados para a confecção de armas, de utensílios domésticos e de adornos.
Foram encontrados despojos arqueológicos em Jericó (Israel), em Çatal Hüyük na Anatólia, em Qalat-Jarno, ás margens do rio Tigre, e em Tell-Hassuna no Iraque, com vestígios de aldeias do período Neolítico que puderam fornecer informações sobre a vida nesta época.
Antropólogos, estudando estes vestígios, chegaram a afirmar que o homem desta época, tinha uma dieta alimentar mais adequada do que os homens que viveram durante a Idade Média.
Na introdução do livro ‘The Cambridge World History of Food, editado por Kenneth F. Kiple e Kriemhild C. Ornellas, está escrito que o primeiro motivo que levou o homem a capturar animais foi para ofertar aos deuses em sacrifício: ‘There was, however, another motive for capturing animals, which was for use in religious ceremonies involving animal sacrifice. Indeed, it has been argued that wild water buffalo, cattle, camels, and even goats and sheeps were initially captured for sacrifice rather than food. ’
Os pastores primitivos viveram nos vales dos rios Tigre e Eufrates na Mesopotâmia. Foi quando ocorreu a domesticação dos carneiros. Estes pastores tinham dupla atividade, pois já praticavam também a agricultura.
O pastoreio propagou-se para a região central da Pérsia onde foram domesticados os caprinos. O pastoreio já era praticado também no sudoeste da Ásia e no sul da Europa e um pouco mais tarde alcançou o vale do rio Nilo, no Egito.
Com a agricultura e o pastoreio, a terra das aldeias tornou de uso comunitário, sendo os cereais plantados, colhidos e consumidos coletivamente, assim como a posse dos rebanhos e o uso dos seus produtos. Tudo o que era produzido tinha que ser dividido por igual para toda a comunidade. O trabalho tornou-se uma atividade coletiva que congregava todos os habitantes cada um com a sua tarefa, formando-se assim o embrião do sentimento de nacionalidade.
Cabia ás mulheres o preparo da terra para o plantio dos grãos, a colheita, a moagem e de cozinhar as refeições. Também cabia a elas, tecer e manufaturar as roupas e os agasalhos. O homem tinha como tarefa a derrubada das matas, a capina das lavouras, a construção das moradias, o manejo do gado, a pesca e a manufatura de armas e de ferramentas. Os únicos itens que mantiveram a posse individual foram as armas de caça e de guerra, os utensílios de cozinha e as vestimentas.
As primeiras povoações surgiram na Mesopotâmia, nos vales dos rios Tigre e Eufrates que nascem das montanhas de Zagros, no atual Irã, onde havia começado o pastoreio.
Aproximadamente em 3.500 anos a.C, começou a ser usada a irrigação artificial, pois faltavam chuvas para o cultivo dos cereais e para dar de beber aos animais de criação. A irrigação possibilitou uma produção mais constante e evitou muitas crises de falta de cereais. Estes benefícios foram bem aproveitados pelas comunidades que tendo mais alimentos, podiam ter mais filhos e, portanto, aumentar as populações das aldeias.
Como não sabiam explicar a razão por que acontecia, criaram uma divindade para proteger os animais que sofriam com as pragas e doenças, passando a cultuar a deusa Nin-Harsa, como protetora dos rebanhos.
Na Antiguidade, o oficio de pastorear era uma atividade nobre e prestigiada. Existiam reis que foram pastores (Davi, o mais famoso deles) e na mitologia existiam também deuses pastores, entre os quais Mercúrio (Hermes) e Apolo, o que pastoreava os rebanhos do rei Adameto. Apolo é considerado na mitologia grega, como o protetor dos rebanhos.
Existe a narrativa que Mercúrio roubou o gado de Apolo, sendo por isso severamente advertido por sua mãe. Apolo descobriu que tinha sido roubado depois de consultar um oráculo. Ele então prendeu Mercúrio e levou-o perante a assembléia dos deuses no monte Olimpo. Pressionado, depois de negar que tinha roubado resolveu devolver o que tinha levado.
Na África Setentrional e no Sudoeste da Ásia o pastoreio consistia no manejo da criação de cabras, ovelhas e camelos. Os beduínos eram os pastores destas regiões quentes e quando o verão ficava insuportável procuravam levar as manadas para o refúgio nas montanhas mais altas, onde as temperaturas eram mais amenas.
Alguns Lapões do extremo norte da Europa também eram pastores. No período de verão abandonavam a taiga e aproveitavam as boas pastagens da tundra para criar as suas renas, que além de fornecer boa carne eram também excelentes animais de carga.
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