HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DE GADO NA ESPANHA

Leopoldo Costa

O nome Espanha, foi usado pela primeira vez por Artemidoro de Éfeso, no século I a.C., como variante do grego Hispania. Foi empregado por Júlio César (101-44 a.C) para designar a Hispania  Ulterior (Bética e Lusitania) e a Hispania Citerior (Tarraconense).

A origem pode ser a palavra fenícia ‘span’ que significa ‘coelho’, em razão da abundância destes animais no sul do país. Na época do imperador Adriano (76-138) nas moedas emitidas a Espanha era representada por uma senhora com um coelho nos pés.

Antes dos romanos, a Espanha era chamada de Ibéria, como Hecateu de Mileto, identificou a região no século IV a.C. Ibéria veio de ‘iber’, que significa ‘rio’. (daí rio Ebro).

No período Neolítico, surgiu na região de Almeria a 'civilização' da Pedra Polida, que em Los Millares (2400-1500 a.C) atingiu o seu ponto máximo. Foram introduzidos a cerâmica, o uso de metais e a agricultura. Observam-se influências  Egípcias nestas inovações.

Nos séculos X e VIII antes de Cristo, os Fenícios  estabeleceram um entreposto  comercial em Cadiz (Gades) com o objetivo de obter cereais da próspera agricultura de Guadalquivir e os metais da serra Morena.

No século IX antes de Cristo, os Celtas, depois de ultrapassar os Pirineus, fixam-se na Catalunha e às margens do rio Ebro e mais tarde foram expandindo até Castela, Galicia, Andaluzia e o norte de Portugal. Miscigenando com os nativos, os iberos formaram os Celtiberos. Os Celtiberos apreciavam a carne de cavalo.

No século VI a.C. depois da decadência dos Fenícios, os Gregos chegaram a península e fundaram diversas colônias na costa mediterrânea, como Emporium, Rosas, Artemision e Mainaké.

A partir de 535 a.C, os Cartagineses dominaram o estreito de Gibraltar e a Andaluzia, mantendo esta posição até a chegada dos Romanos no final do século III a.C. Estabeleceram entrepostos em Málaga (Malaka), Almuñecar (Sexi) e  Adra (Abdera).

Com a derrocada de Cartago em 146 a.C. depois das três Guerras Púnicas, os Romanos conquistaram o vale do Guadalquivir e Cadiz  e passaram a fazer incursões para dominar o interior, onde teve grande resistência dos Celtiberos. O assassinato de Viriato na Lusitânia em 139 a.C e a rendição de Numância em 133 a.C. pela ação de Cipião, o Africano (185-129 a.C), completa a ocupação. O último baluarte foi a Galícia, conquistada por Júnio Bruto (que morreu em 43 a.C).

A Espanha quando Roma era reinada por Augusto (63 a.C-14 d.C) foi dividida em duas províncias, a Béltica e a Lusitânia.
Os colonos tiveram direito a cidadania Romana e no reinado de Vespasiano (9-79 a.C), que durou de 69 a 79, as cidades da província foram consideradas equivalentes às cidades romanas.

Ilustres cidadãos de Roma nasceram na Espanha: Marcial, Lucano, Quintiliano, Columela, Sêneca e os imperadores Trajano e Adriano.

No início do século V, os Vândalos invadiram a Espanha e se fixam na Andaluzia (denominando-a Vandaluzia). Em 409, sofreu a invasão dos Alanos e dos  Suevos que se estabelecem a noroeste do paí . Em 415, os Visigodos sob o comando de Ataulfo, como aliados do Império Romano, entraram na Espanha e em 429 expulsam os Vândalos e Alanos para o norte da Africa. Os Visigodos voltaram para a sua base na Aquitânia.

Permaneceram os Suevos, de origem germânica, cujo rei Requiário (reinou de 448 a 456) foi o primeiro soberano Bárbaro a converter-se ao Catolicismo. No reinado de Alarico (reinou de 484 a 507) os Visigodos, sobre pressão dos Francos, emigraram  e estabeleceram na Espanha. Com o rei Atanagildo (reinou de 554 a 567) a capital gótica foi a cidade de Toledo. 

Leovigildo (reinou de 568 a 586) submeteu os Bascos e os Cantábricos, afastou os Bizantinos e conquistou os Suevos, ficando então toda a península sob domínio Visigótico.

Santo Isidoro se Sevilha (?560-636) pregava a proibição do consumo de carne pelos monges. Escreveu  na ‘De Ecclesiasticis Officiis’: ‘não se proíbe as carnes para os monges porque fazem mal para eles, e sim porque estimulam a luxúria e despertam os vícios humanos.’


Em 711, no reinado de Roderico os Mouros, comandados por Tarik (morreu em 720), governador de Tanger, em nome dos califas Omíadas, invadiram a Espanha com o exército Bérbere, venceram a batalha de Guadalete e alcançaram Alcalá. Em 712, Muza (?660-?714), governador de Marrocos e chefe de Tarik, penetrou no sul da Espanha   e compleeetou a dominação. Em 713/714 conquistaram Mérida, Toledo e Saragoça e submeteram os Visigodos. O exército Mouro em 718,  atravessou os Pirineus e penetrou na Gália até Poitiers, onde foram derrotados pelo exército comandado por Carlos Martel (685-741) em 
732. Tiveram que recuar.

Alguns historiadores argumentam que a raça Merino de ovinos foi introduzida na Espanha no ano de 712 pelos Mouros. 

Na dominação Moura a Espanha passou a integrar o califado de Damasco e Sevilha foi escolhida como capital. A luta para o governo deste califado entre duas dinastias rivais, desorganizou a administração. Abd al-Rahman, da dinastia dos Omeyas, fugiu para a Espanha e estabeleceu um governo independente, que mais tarde veio a ser o califado de Córdoba, com a capital nesta cidade.

O emir Abd al-Rahman I (governou de 756 a 788), dividiu o território em seis províncias militares  e empreendeu reformas judiciárias.

O emir Abd al-Rahman II (governou de 822 a 852), neto de Abd al-Rahman I, rechaçou os Normandos que invadiram Sevilha em 843 e incentivou o comércio e as artes.

O emir Abd al-Rahman III (emir de  912 a 929 e califa de 929 a 961), que proclamou-se a si mesmo califa de Córdoba. O primeiro a usar o título de califa da Espanha. No seu tempo a cidade de Córdoba com 500.000 habitantes tornou-se a maior e mais próspera cidade da Europa. Ordenou a instalação da primeira escola de medicina e facilitou a difusão dos antigos manuscritos gregos.

Os cristãos que não aceitaram o domínio Mouro e a religião muçulmana, refugiaram-se no norte e procuraram ganhar território dos invasores. Em 718, Pelayo, escolhido rei de Astúrias obteve um notável triunfo contra os Mouros em Cavadonga. Pouco a pouco outros reinos foram  sendo formados pelos cristãos, como Galícia, Leão, Navarra e Castela.

O principal soberano dos pequenos reinos cristãos era Sancho III, o Maior (965-1035) de Navarra. Em 1028, ocupou Castela e a parte oriental do reino de Leão, proclamando-se imperador da Espanha. De fato, quando morreu seus domínios estendiam-se por toda a Espanha cristã. Destruiu este império dividindo-o  entre seus quatro filhos. Navarra a Garcia, Castela a Fernando, Aragão a Ramiro e Sobrarbe e Ribagorza a Gonzalo.

Fernando I de Castela (1016-1065), conseguiu reunificar todo o norte da Espanha e em 1056 assumiu o título de rei da Espanha. Organizou a administração, dando inicio de fato ao período de restauração do domínio espanhol na península Ibérica. Seguindo o costume da época, deixou em testamento que o reino seria dividido depois da sua morte entre seus três filhos: Sancho, Afonso e Garcia.
Afonso ficou com Leão e tornou-se Afonso VI, o Bravo (1042-1109). Foi destituído e aprisionado em 1068 pelo seu irmão Sancho II, que tinha herdado Castela e era seu rei. Mais tarde,  em 1072, numa rebelião palaciana Sancho II foi assassinado e Afonso reassumiu o poder, inclusive de Castela. Em 1073 apossou-se da Galícia, deixada pelo seu pai para seu irmão mais jovem Garcia, a quem fez prisioneiro. Conseguiu reconstituir o império criado pelo seu pai. Em 1085 conquistou o reino mouro de Toledo e os seus domínios estendeu para toda a região entre os rios Douro e Tejo. Com a sua morte assumiu o trono Urraca(1081-1126), viúva do conde Raimundo de Borgonha que foi rainha de 1109 a 1122, fazendo uma administração medíocre.

No século XII a tribo de Mouros Beni-Merines introduziram estes ovinos na Espanha, que alguns  advogam que foram os animais que deram origem ao Merino, sendo o nome da raça uma corruptela do nome da tribo.

Seu sucessor foi seu filho Afonso VII (1104-1157), que governou de 1126 a 1157, Reconquistou terras de Castela ainda no domínio de Afonso I de Aragão e em 1133 rechaçou os Mouros até Cadiz, conquistando-lhes em 1147 a Almeiria e Tortosa em 1148. Ao morrer dividiu o império conquistado, cabendo Castela a Sancho III e Leão a Fernando II.

Afonso VIII (1155-1214), rei de Castela de 1158 a 1214, denominado o Bom, fundou em 1208 a primeira universidade espanhola em e infringiu aos Mouros a mais importante batalha da reconquista em Navas de Murcia em 1212.
Em 1202, um documento do governo tabelava os preços das carnes de ovinos e caprinos, que eram as mais consumidos pela população pobre.

No reinado de Afonso X (reinou de 1232 a 1284) os Mouros foram vencidos em Murcia em 1266. Finalmente, após longas lutas, os Reis Católicos[1], Fernando de Aragão e Isabel de Castela (1451-1504), expulsaram definitivamente os Mouros, com a tomada de Granada pelo exército de Gonzalo Fernandes de Córdoba (1453-1515) no dia 2 de janeiro de 1492 e a 
Espanha foi unificada.

Em 1273, foi criada o Conselho de Mesta, que congregava criadores de gado com o objetivo de protegê-los dos grandes proprietários de terra destinadas a agricultura. Sempre foi uma fonte de renda para o governo cobrir as suas despesas. A sua importância pode ser medida pelo fato de até 1500 as reuniões do Conselho serem presididas por um ministro nomeado pelo governo. Em 1836 a Mesta foi extinta e substituída pela ‘Associacion General de Ganaderos’ que continuou com a mesma estrutura e objetivos da Mesta. Publicou os novos estatutos somente em 1854.

Em 17 de janeiro de 1347 o rei criou a ‘Cabaña General y Real Hispaniola’, referendada em 1454 e 1489 pelos seus sucessores.


Enrique de Villena (1384-1434) em 1423, fez no seu livro ‘Arte Cisória’, além de ensinar a arte da desossa, uma relação minuciosa dos tipos de carne de peixes que eram consumidas em Castela. Num capítulo tratava dos animais quadrúpedes que forneciam carne para a alimentação da aristocracia, como bois, vacas, búfalos, cervos, gamos, gazelas, lebres, coelhos, cabras, porcos, cabritos, carneiros e camelos.


No mesmo ano de 1492, os Reis Católicos, expulsaram cerca de 170.000 judeus, que não quiseram converter ao Catolicismo, que fugiram para outros países europeus, principalmente Portugal. A expulsão foi uma sugestão do Tribunal da Inquisição, dirigido por Tomás de Torquemada (1420-1498).
No reinado de Fernando e Isabel, Cristovão Colombo recebeu financiamento para a sua viagem que descobriu a América, iniciando a construção do vasto império espanhol no Novo Mundo.

Castela, na época com 4.500.000 habitantes, estava empobrecida e somente a Mesta, apoiada pelos mercadores que exportavam lã para Flandres, estava com os cofres cheios. Os rebanhos estavam em decadência, como também a agricultura, mas mesmo empobrecidos os camponeses eram forçados a pagar os pesados tributos a Mesta que repassava a maior parte para financiar o governo.

O sucessor de Fernando II, falecido em 1516, foi Carlos I de Habsburgo (1500-1558) que reinou de 1516 a 1556 e tornou com casamentos dinásticos, o monarca mais poderoso da Europa. Era senhor da Holanda, Áustria, Sardenha, Sicília, Nápoles e imperador do Sacro  Império Romano Germânico, como Carlos V.  Em 1555-1556, Carlos de Habsburgo abdicou de todos os seus domínios em favor do seu filho Filipe II e recolheu-se  ao mosteiro de Yuste onde morreu em 1558.

ELe encarregou a Diego López de Haro e Sotomayor, marquês do Carpio, a criação das Cavalariças Reais de Córdoba, onde agrupou os melhores reprodutores e éguas das províncias que fazem limite com Guadalquivir, sendo este plantel de origem da raça Andaluza de cavalos.


A Coroa espanhola reservou o comércio com as colônias apenas aos castelhanos, que deveriam passar por Sevilha. A cidade com isto ganhou grande prosperidade, passando de 25.000 habitantes em 1517 para 90.000 habitantes em 1594. Os metais preciosos, principalmente a prata do México e do Peru, chegavam às toneladas. A exploração colonial provocou uma grande inflação e o enriquecimento das indústrias de tecelagem de Flandres, Inglaterra e da própria Espanha.

Em 1580, Filipe II, pretendeu o trono de Portugal, vago pela crise dinástica aberta pela morte do rei Sebastião (1554-1578), mas só consegue anexar o país pela força militar. Só em 1640 o reino de Portugal se libertou do jugo espanhol.

Sucederam-lhe Filipe III (1578-1621), reinou de 1556 a 1598, Filipe IV (1605-1665), reinou de 1598 a 1621 e Carlos II (1661-1700) que reinou de 1665 a 1700, sendo até 1675 sob a regência de sua mãe Mariana da Austria (1634-1696) e encerrou o domínio da dinastia dos Habsburgos.

Antes do século XVIII, a exportação de ovinos Merino da Espanha era proibida e punida como um crime e a pena era de morte. Apenas com a subida ao trono da dinastia dos Bourbons[4], com Filipe V em 1700, é que as exportações foram autorizadas.

Em 1605, Cervantes (1547-1616), no capítulo XV da primeira parte de Dom Quixote, faz alusão à galhardía das éguas de Córdoba, que eram da raça Andaluza. Mais na frente, no capítulo XXIV diz que Córdoba é o local onde existia os melhores cavalos do mundo. 

Lope de Veja (1562-1635) reconhece não só a fama dos cavalos cordobenses como também os seus ginetes.


Na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) a Espanha foi arrasada pelos países protestantes apoiados pela França e foi obrigada a reconhecer a independência da Holanda.

Em 1700, a dinastia dos Bourbon, assumiu o poder na Espanha, com a posse do rei Filipe V (1683-1746), neto de Luís XIV (1638-1715) da França, que governou até 1746. Em 1713, a Espanha perdeu Gibraltar, Minorca, o ducado de Milão, o reino de Nápoles e a Sardenha.
Na dinastia dos Bourbon destacou-se Carlos III (1716-1788), que reinou de 1759 a 1788 e fez reformas liberais. Sob o reinado de seu sucessor Carlos IV (1748-1819) que reinou de 1788 a 1808.

Napoleão Bonaparte (1769-1821) apoderou-se da Espanha e fez rei seu irmão José (1768-1844), que reinou até 1813.

Nas primeiras décadas do século XIX, rebeliões nacionalistas nas Américas, conseguem a independência de todas as colônias. No final do século XIX, em 1898, chegou ao fim o império colonial espanhol, quando perdeu Cuba, Porto Rico e Filipinas, na guerra contra os Estados Unidos.

Na Guerra da Independência o povo espanhol derrotou os Franceses, reempossou em 1814 o novo rei Fernando VII (1784-1833), que reinou até sua morte em 1833. Sua filha e sucessora Isabel II (1830-1904), assumiu o trono sob a regência de sua mãe Maria Cristina de Bourbon (1806-1878). A reação liderada por Carlos, irmão de Fernando, aspirante ao trono, provocou a chamada Guerra Carlista (1833-1840). Isabel II que foi proclamada rainha em 1843 foi destronada por uma revolução em 1868.

Em 1869, foi estabelecida uma monarquia constitucional e a Coroa foi oferecida a Amadeu I (1845-1890), duque de Aosta, filho do rei da Itália, que aceitou e assumiu o trono em 1870. Renunciou em 1873 por pressões palacianas.  As cortes decidiram estabelecer uma república, que em dois anos teve 4 presidentes.  A grave situação econômica e política possibilitou um golpe militar e os generais assumiram o poder.

Em 1874, o general Arsenio Martinez-Campos Antón (1831-1900) , sublevou em Sagunto e proclamou a restauração da dinastia Bourbon, garantindo a posse de Afonso XII (1857-1885), filho de Isabel, a rainha destronada em 1843, que reinou de 1874 a 1885. Afonso XIII (1886-1941), seu filho póstumo o sucedeu (reinou de 1902 a 1931), que enquanto menor (de 1885 a 1902) teve a regência de sua mãe  Maria Cristina II (1858-1929).

Em 1923, sublevou-se o capitão general da Catalunha Miguel Primo de Rivera (1870-1930), tornando-se ditador e exercendo  o cargo com muita autoridade até 1930. Nas eleições convocadas em 1931 os republicanos venceram. Foi destituído o rei  Afonso XIII e proclamada a república.

Em 23 de março de 1933 foi publicado pelo governo um regulamento que no seu artigo mais importante determinou que os livros de registros genealógicos das raças leiteira deviam se submeter a Direçõ Geral da Pecuária.

Em 1936, uma frente de socialistas e comunistas  disputou e ganhou as eleições, o que provocou a reação do general Francisco Franco que liderou um levante contra o governo, apoiado pela oligarquia rural e a igreja católica.

É iniciada a Guerra Civil que durou de 1936 a 1939. Os socialistas tinham o apoio da União Soviética que enviaram armas e os franquistas recebiam ajuda de Adolf Hitler (1889-1945) da Alemanha e Benito  Mussolini (1883-1945) da Itália. Morreram quase um milhão de pessoas e a vitória foi dos franquistas que implantaram a ditadura.

Em 7 de novembro de 1936 foi publicada um regulamento para os livros de seleção e de comprovação de rendimentos do gado leiteiro.

No ano de 1943 foi efetuado um recenseamento dos rebanhos da Espanha. O país tinha 4.173.431 bovinos, 24.310.000 ovinos, 6.139.580 suínos e 6.410.000 caprinos.

Em 26 de janeiro de 1945 foi aprovado o regulamento para o serviço de cobertura de bovinos no posto zootécnico de Barcelona.
Em 7 de abril de 1945 foram regulamentados os concursos de gado no país.

Em 1947, o ditador Franco restaurou a monarquia e passou a ser regente vitalício. Em 1969, nomeou como sucessor o príncipe Juan Carlos, neto do rei Afonso XIII, deposto quando foi instalada a república. Franco morreu em 1975 e o príncipe é coroado rei, iniciando a redemocratização do país.

Ramón Menendez Pidal (1869-1968), na sua ‘Historia de España’ descreve a importância da carne suína entre os primitivos espanhóis: ‘(...) de entre los animales para carne debió, sin duda, ser el cerdo el más constantemente criado. (...)’ 


Durante a Baixa Idade Média, a Espanha era um mosaico de povos e culturas, pois havia cristãos, judeus e muçulmanos (mouros) convivendo num mesmo território. Estas diferenças de cultura, de crenças religiosas se refletiam nos costumes alimentares, principalmente no hábito de consumo de carne de porco, alimento muito importante para alguns daqueles povos e condenado por outros.

Com o crescimento da população e da demanda, açougues públicos foram instalados. Os açougues espanhóis eram semelhantes aos de Roma, um local onde eram abatidas e desossadas os animais para a carne ser distribuída para a população.
Antes os abates eram feitos pelos próprios açougueiros nas suas casas ou nas ruas. As carnes eram comercializadas nas feiras e no mercado sem maiores cuidados, como faziam outros comerciantes com os seus produtos não perecíveis. A única diferença era que os comerciantes de carne teriam que informar as autoridades a quantidade de animais que foram abatidos, o preço de venda e a qualidade das mesmas, julgadas pelo próprio comerciante.

Numa ‘ordenanza’ de 1526, foi estabelecido pelo governo que apenas o sangue de porco era permitido na produção de chouriço (‘morcilla’). Não era permitido mais o uso de sangue de outros animais.  

O rebanho mais importante da Espanha é o de ovinos, principalmente da raça Merino. A meseta central é a maior região criadora. A população de ovinos está estável nos últimos 45 anos, pois a demanda de lã fina foi prejudicada pela concorrência dos produtos sintéticos.
Nos meses de chuva os ovinos permanecem nas partes planas como a do vale do rio Ebro e nos meses secos os animais são levados para as montanhas, como os Pirineus, onde existe maior umidade. É a chamada transumância.

A Estremadura é a região de maior criação de suínos e a Astúrias é onde se concentra a maior criação de bovinos, onde as pastagens permanecem verdejantes durante todo o ano.

Rebanho da Espanha nos últimos 45 anos

(000)
1961
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1995
2000
2005
Bovinos
3.640
3.697
4.288
4.417
4.679
5.007
5.187
5.248
6.217
6.463
Caprinos
3.230
2.383
2.570
2.392
2.100
2.635
3.780
3.157
2.876
2.905
Equinos
535
324
285
257
248
253
248
248
238
240
Suinos
6.032
4.016
6.915
7.868
10.714
11.390
16.911
19.288
22.418
24.884
Ovinos
22.622
20.327[
18.729
16.257
14.547
17.520
22.739
23.058
23.965
22.743
Fonte: FAO

A Espanha é a região de origem da mais importante raça de ovinos lanígera do mundo, a Merino.

Não existe consenso quanto a sua origem. Para M. B. Helman[2] ela descende de uma forma de ovino selvagem natural da península da Anatólia (Ásia Menor), o Ovis arkal, conhecido na região como ‘Ovelha das Estepes’, que teria sido difundido em tempos remotos pelas costas do mar Mediterrâneo e chegado ao sul da península Ibérica. 

R. D. Montilla[3] defende a tese a sua origem no próprio sul da Espanha com o cruzamento do Ovis orientalis com Ovis vignei, que acompanharam a emigração dos Camitas ao longo da costa mediterrânea.

Os Fenícios são apontados pela introdução de ovinos no norte da Africa e  

Outros defendem que ela procede dos ovinos selvagens e bravios que Columela (4-?70) comprou em Cadiz de um africano domador de feras e que fazia parte de uma coleção de animais ferozes importados da África.

Numa outra versão consideram o Merino como descendente da antiga raça Tarentina da Itália. Columela (4-?70 no seu livro ‘De Re Rustica’ relata que o seu tio levou para a Espanha uma certa quantidade de ovinos de Tarento.

Os Merinos primitivos teriam lã pigmentada e seus descendentes foram criados pelos turdetanos, vetões e lusitanos, antigos povos da península Ibérica.
Durante o período de ocupação da península Ibérica pelos Romanos, Visigodos e Mouros a criação de ovinos para a produção de lã foi fomentada e foi iniciada a fabricação de tecidos de lã que foram exportados para diversos lugares.

Entre os séculos XIII e XIV a raça recebeu influência de material genético proveniente da Inglaterra.
Com base na lã dos Merinos a Espanha construiu um monopólio de lã fina que perdurou do século XII ao século XVI, comercializando o produto principalmente para Flandres e Inglaterra.

A maioria dos rebanhos (cabañas) era de propriedade da nobreza ou da Igreja. Durante o inverno as ovelhas pastavam nas planícies do sul e no verão nos planaltos do norte.
As quatro estirpes de Merino, que originou a maioria dos rebanhos foram a Real Escurial, o Negretti, o Infantado e o Paula.

A Espanha também é a pátria do cavalo Andaluz. É uma raça de cavalo espanhola originaria de Andaluzia. Trata-se de um cavalo do tipo ibérico que está entre as raças equinas mais antigas do mundo.
Na Espanha ele também é conhecido apenas como "Cavalo Espanhol" oficialmente "Pura Raça Espanhola" (PRE).
Os cavalos da região hoje denominada Andaluzia têm fama desde a Antiguidade. Os cavalos da província da Bética (onde localizava-se a Andaluzia) foram muito apreciados nos espetáculos no Coliseu.
Quando a Espanha esteve sob o domínio dos Mouros  foi muito importante para os guerreiros. Para preservar a qualidade e pureza da raça durante o período compreendido entre os séculos XIII e XIX, foi proibido o cruzamento de fêmeas da raça com outros machos que não fosse da raça.



[1]  Fernando foi rei de 1479 a 1516 e Isabel foi rainha de 1474 a 1504.
 [2] No livro ‘Ovinotecnia’  Buenos Aires, 1965.
[3] No livro ‘’Ganado Lanar’ Barcelona,1955
[4] Este período compreende os reinados de Filipe V, Fernando VI, Carlos III e Carlos IV que durou de 1700 a 1808.



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