A FASE HISTÓRICA DA CAÇA
Leopoldo Costa
A necessidade primária de satisfazer a fome induziu o homem a caçar os animais existentes ao seu redor, ou a se apropriar dos animais abatidos por outros predadores.
Existem evidências nos depósitos arqueológicos deixados entre 2.500 e 1.500 milhões de anos, pelos hominídeos da África Oriental, que o homem primitivo era mais caçador do que ladrão de carcaças. Armas rústicas de pedra lascada foram encontradas próximas as ossadas de animais, comprovando que houve esforço para dominar a presa.
Num sitio arqueológico em Jersey na Inglaterra, datado de 250.000 anos atrás, foram preservados as provas de um episódio de caça a um rinoceronte e a um elefante que foram forçados a pular um precipício.
Num sitio na França, foram encontrados ossadas de ursos e também de elefantes, caçados pelos habitantes locais.
Porém de qualquer maneira, as carnes caçadas ou roubadas tinham que ser consumidas num curto espaço de tempo, pois, logo estragariam e ficavam impróprias para o consumo.
O homem do período Paleolítico inferior deu início à caça e comia a carne crua sem nenhum tempero, como faziam os animais ferozes. Ainda não era conhecido o sal e nem o fogo. Como as temperaturas eram muito baixas naquela época, as sobras da carne dos animais caçados e não consumidos no mesmo dia, eram deixados ao relento, para receber o sereno e a aragem, o que facilitava a eliminação da umidade e o desenvolvimento dos micro-organismos. A carne fermentava e congelava lentamente ficando mais macia e suculenta, quando fosse consumida.
Outras vezes, para a sua conservação eram envolvidas em folhas, colocadas em covas e cobertas com terra. Usavam presas de mamute para armar uma proteção e evitar o contato direto da carne com a terra.
No período Paleolítico superior (60.000 a 15.000 a.C) a arte de caçar desenvolveu muito. Os homens criaram maneiras para facilitar a captura e o abate dos animais, sendo na maioria das vezes inconsequentes extinguindo assim algumas espécies de animais de maior porte.
O homem primitivo inventou o arco para arremessar flechas e dardos, que veio a substituir as armas ainda mais rústicas fabricadas de pedra lascada.
Os arqueólogos encontraram uma testemunha importante deste período, a chamada ‘lança de Lehringer’, uma haste pontiaguda de madeira, entre os ossos da costela do esqueleto de um elefante primitivo.
Todos os grupos do período Paleolítico superior já eram povos caçadores e estavam equipados com instrumentos para essa atividade. Os mais conhecidos foram as culturas Predmostiana na Europa Oriental e Central e as culturas Aurignaciana e Magdaleana na Europa Ocidental, mormente na França.
Em Predmost, próximo a Morau, na Morávia, foram encontrados apenas numa escavação restos de mais de 1.000 mamutes cuja carne foi usada como alimento. Esta atividade predatória e a própria evolução natural das espécies provocaram a extinção de vários tipos de animais, como o próprio mamute, que foi extinto no Magdaleano, e os rinocerontes peludos, que foram extintos no Aurignaciano.
A diminuição da disponibilidade de animais grandes que eram menos ágeis e proporcionavam maior fartura, provocou o êxodo dos homens primitivos em busca de maior oferta.
Assim, o homem chegou a América à cerca de 20.000 anos atrás, procedente do norte da Ásia e atravessando o estreito de Behring, em busca da caça e seguindo as manadas de bisões. Alcançaram o Alasca. Continuando o seu curso foram descendo pelo continente pela faixa compreendida entre o Oceano Pacífico e as Montanhas Rochosas.
As manadas de bisões habitavam esta grande planície e foram caçadas por estes primeiros americanos.
A caçada primitiva de bisões tinha duas formas. Perseguiam as manadas forçando-as a cair nos precipícios ou faziam rústicos currais onde os animais eram encantoados e forçados a entrar.
Foram longe, em 13.000 a.C. no sul do Chile floresceu uma comunidade de caçadores na localidade de Monte Verde, ás margens do rio Chinchihuapi. Em 9.000 a.C. os caçadores nômades já estavam vagueando pela Patagônia no sul da Argentina.
No período Mesolítico, a disponibilidade de carne diminuiu devido à escassez de animais maiores para serem caçados, que tiveram que ser substituídos por animais menores, mais ágeis e que viviam mais dispersos, sendo, portanto mais difíceis de capturar e rendiam menor quantidade de carne. O homem então foi obrigado a complementar a sua alimentação com frutas e grãos. Nessa época foi iniciado o cultivo da lentilha.
Ainda hoje, embora nos costumes modernos a caça seja condenada e apenas considerada como um esporte politicamente incorreto, a atividade prevalece como o principal meio de sustento da população de algumas regiões.
Os esquimós da Lapônia, os habitantes da Groelândia e de algumas ilhas árticas do Canadá e da Sibéria, consideram o produto da caça o seu principal alimento. O curto verão é a época que os esquimós se dedicam à caça usando suas canoas de couro, para obter as provisões para o longo inverno. Na Lapônia, o verão dura de dois a três meses e o sol ilumina durante as vinte e quatro horas do dia. No outono é o período dedicado à pesca do salmão. Usam os seus trenós puxados por cães, para chegar as áreas de pesca e transportar o produto. Mesmo no inverno quando é a noite na região polar ainda se caça. Usam o clarão da lua para procurar os esconderijos do urso e do boi almiscarado.
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