HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DE GADO NO CANADÁ
Leopoldo Costa
As lendas da Escandinávia contam que no ano de 986, Bjarni Herjulfson visitou as costas canadenses e que no ano 1000, Leif Ericson (970-1020) chegou ao Labrador e a Nova Escócia, que ele denominou de Vinland em razão ao grande quantidade de videiras silvestres que observou.
Em 24 de junho de 1497, o navegador Giovanni Caboto ou John Cabot (1450-1499), em missão patrocinada pela Inglaterra, na busca de uma passagem para o ocidente, descobriu a Terra Nova (Newfoundland). Numa segunda viagem explorou as costas da baia de Baffin e da península do Labrador.
Em 1534, Jacques Cartier (1491-1557) a serviço do rei Francisco I da França (1494-1547), descobriu o golfo de São Lourenço e em 1534, ao pé de uma colina, que por sua beleza deu o nome de Montreal, tomou posse do território que chamou de Nova França.
Em 1642, os Franceses fundaram uma cidade próxima a colina que denominaram também Montreal. Retornando a França, depois, de haver estado em contato com os índios e de haver sofrido os rigores do inverno que congelou as águas em torno do navio, Cartier descreveu a região com muito entusiasmo, incentivando outros franceses a explorar as terras que tinha descoberto.
Jean de la Rocque, senhor de Roberval (1500-1560) recebeu incumbência do rei de França para iniciar a fixação de colonos. Em 1541, atingiu a região de Quebec e pelas dificuldades e recusa da expedição em continuar a exploração teve que retornar a França.
Em 1576, o explorador inglês Martin Frobisher1 (1535-1594) foi o primeiro a velejar pelas águas do Artico e na busca de uma passagem a noroeste para a China, explorou a costa do Labrador, cruzou o estreito de Hudson e descobriu a baía que hoje tem o seu nome.
Samuel Champlain (1567-1635) foi encarregado pelo rei Henrique IV da França (1553-1610) para a tarefa de fundar uma colônia e organizar o negócio de peles nos novos territórios descobertos. Em 1608 fundou a cidade de Quebec.
Em 1616, William Baffin (1584-1622), procurando também uma passagem para noroeste para chegar a China, descobriu a baía que tem o seu nome.
Em 1621, os ingleses tentaram colonizar a Terra Nova e a Nova Escócia. A coroa da França, mais tarde concedeu a ‘Companhia dos Cem Associados’ (que fracassou em 1627) e a ‘Companhia das Índias Ocidentais’ a concessão para administrar a colônia. Não tiveram sucesso e foi retomada a administração diretamente pelo governo, sendo criado o cargo de governador e um conselho de representantes. Durante este período houve disputas com os ingleses para a posse da região. Em 1678,
Robert de la Salle (1643-1687) explorou a região dos Grandes Lagos. Em 1707, os ingleses desembarcam em Acadia, a leste do país.
As primeiras cabeças de gado que desembarcaram no Canadá foram levadas pelos portugueses em 1553, para o território de Terra Nova. Um pouco mais tarde, navegadores franceses desembarcaram algumas cabeças provenientes da Normandia na região da foz do rio São Lourenço.
Em 1610, Jean de Biencourt de Pourtrincourt ou Sieur de Pourtrincourt (1557-1615) desembarcou na Nova Escócia os primeiros bois treinados para tracionar equipamentos agrícolas. Depois, dele e até o final do século XIX os bois foram a força motriz principal na zona rural do Canadá. Como em Portugal, Espanha e no Brasil todos os bois tinham nomes e atendiam pelos mesmos.
Em 1813, um touro e uma novilha chegaram da Inglaterra. As primeiras raças européias a chegar ao Canadá foram a Galloway, Jersey, Guernsey, Shorthorn e Hereford. Em 1853, o primeiro exemplar da raça Galloway chegou ao Canadá. Do gado Aberdeen Angus, a primeira importação foi feita por Sir George Simpson em 1859.
Em 1860 mais outros animais chegaram a Quebec e em Victoria. O primeiro exemplar puro da raça nasceu no Canadá em 1877 e era filho do touro ‘Gladiolus’.
Em 1868, chegaram os primeiros animais da raça Jersey para a província de Quebec.
Kenneth McKenzie em 1868 introduziu na região de Manitoba animais puros da raça Shorthorns.
Em 1878, o primeiro ministro Sir John Abbot (1821-1893), determinou a primeira importação de gado Guernsey. Estes animais foram enviados a Columbia Britânica.
Em 1880, chegaram os primeiros exemplares da raça Hereford.
Fazendas de criação de gado foram estabelecidas próximas ao lago Manitoba, que alcançaram muita prosperidade. Seus proprietários com os lucros vieram a expandir pelas redondezas adquirindo algumas propriedades menos produtivas.
Os primeiros suínos chegaram ao Canadá em 1819, para a colônia do rio Vermelho.
Doze carneiros da raça Merino foram trazidos por imigrantes em 1812. Todos desapareceram. Não se sabe se morreram por doenças ou foram abatidos para servir de alimento.
Ao final da guerra da Secessão em 1865, a paz só foi estabelecida parcialmente nos Estados Unidos. No norte os índios das planícies estavam ainda revoltados. O bisão, a base alimentar da população ficou escasso e em processo de extinção e faltava carne para a alimentação. Para acalmar a situação e aumentar a oferta de carne, o governo dos Estados Unidos incentivou os criadores de gado a transferir grandes rebanhos do Texas para o norte dos Estados Unidos.
Pela proximidade geográfica boa parte destes rebanhos veio a alcançar o sul do Canadá. Este acontecimento incrementou a indústria de criação de gado no Canadá.
O governo canadense se interessou pela expansão e colocaram a disposição dos criadores, grandes extensões de terras apropriadas para pastagens. Rapidamente toda a área oferecida foi ocupada pelos rebanhos dos novos investidores.
O rigoroso inverno de 1906-07 decepcionou a muitos fazendeiros, pois perderam até 70% dos seus animais. O interesse pelo negocio evaporou-se de uma hora para outra e os que investiram foram embora, assumindo o prejuízo já contabilizado e evitando assim ter outros prejuízos maiores. As pradarias voltaram ao que era antes. Os fazendeiros remanescentes ficaram com poucas cabeças de bovinos e alguns cavalos, mantidos apenas para o consumo doméstico e a lida diária da propriedade. Todos os importantes investimentos foram redirecionados para o cultivo de trigo e cevada, muito mais rentável e menos vulnerável aos invernos rigorosos. Durante anos a situação ficou com este panorama.
No final dos anos 1930, a força do trator começou a substituir o trabalho do homem e dos animais na lida agrícola. Nos anos seguintes esta substituição foi incrementada, vindo a aumentar a produtividade e a eficiência, o que resultou numa oferta abundante de grãos, principalmente de cevada. Com a grande oferta, houve a queda nos preços e a engorda de bois usando o cereal como ração voltou a ser interessante para os fazendeiros.
Em 1938 o Canadá tinha um rebanho de 8,5 milhões de bovinos, 2,8 milhões de eqüinos, 3,5 milhões de suínos e 3,4 milhões de ovinos. Neste ano exportou 94 toneladas de carnes e 554 toneladas de lã bruta.
O rebanho canadense triplicou entre 1940 e 1975.
Durante a década de 1950 foi introduzido o uso de silagem de milho o que baixou o custo da alimentação e permitiu aos produtores canadenses das regiões centro e Sul a engordar o gado mais competitivamente do que os criadores ocidentais que ainda usavam outros cereais. As melhores condições econômicas e a facilidade de compra de novilhos prontos para engordar dos criadores ocidentais, deram início à indústria de confinamento no Canadá do centro e do Sul.
O clima, a maior disponibilidade de ração e as melhores alternativas de transporte, levaram à indústria do confinamento a um grande progresso no início da década de 1970.
Atualmente cerca de 60% da produção de carne está concentrada na província de Alberta. O custo de produção de carne é alto devido ao preço pago pelo bezerro, que representa mais de 80% deste custo, enquanto no Brasil e na Argentina não alcança 60%, e dos cereais para o preparo de ração.
Os bovinos abatidos no país são inspecionados e classificados por veterinários do governo. É adotado um sistema de classificação no qual os animais jovens e de melhor qualidade são classificados como Canada Prime, Canada AAA, Canada AA e Canada A. Os demais, dentro da escala de cor da carne, idade, quantidade de gordura intramuscular e musculatura, em nove outras classificações.
Na década de 1970 foi iniciada a importação de muitos animais de primeira linhagem.
O primeiro touro da raça Limousin, chamado ‘Prince Pompadour’ de comprovada ascendência chegou ao Canadá em 1968, como também os primeiros animais da raça South Devon.
A raça Blonde D’Aquitaine foi introduzida em 1970. Os primeiros bovinos da raça Maine-Anjou chegaram ao Canadá em 1969, os da raça Chianina em 1971, da raça Salers e Gelbvieh em 1972 e da raça Belgian Blue em 1976. Os primeiros animais da raça Charolesa chegaram em 1955 procedentes dos Estados Unidos e outros em 1967, procedentes diretamente da França.
Evolução do rebanho bovino nos últimos 45 anos:
(000) | 1961 | 1965 | 1970 | 1975 | 1980 | 1985 | 1990 | 1995 | 2000 | 2005 |
Bovinos | 10.696 | 12.128 | 11.626 | 14.278 | 12.126 | 11.330 | 11.220 | 12.709 | 13.201 | 14.925 |
Caprinos | 12 | 13 | 16 | 19 | 22 | 25 | 27 | 28 | 30 | 30 |
Equinos | 555 | 419 | 370 | 345 | 370 | 393 | 415 | 380 | 385 | 385 |
Suinos | 5.001 | 5.596 | 6.559 | 6.030 | 10.091 | 10.572 | 10.392 | 11.291 | 12.904 | 14.810 |
Ovinos | 757 | 549 | 528 | 497 | 485 | 514 | 595 | 617 | 793 | 978 |
Fonte: FAO adaptada pelo autor
[1] Também lutou contra a ‘Invencivel Armada’
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