HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DE GADO NA BOLÍVIA

Leopoldo Costa

Os índios Collas (chamados equivocadamente de Aimarás pelos espanhóis) povoavam a região que hoje corresponde à Bolívia.

No século III a. C. os Collas desenvolveram uma civilização adiantada ás margens do lago Titicaca a cidade de Tiahuanaco, que floresceu durante mais de treze séculos. Eles eram bastante habilidosos na agricultura, na confecção de tecidos, na arquitetura, na escultura e na cerâmica, criando vasos e outros objetos com figuras policromáticas pintadas a fogo.

Tupac Yupanqui (1471-1493) e o seu exército começou a conquista da região para os Incas, o que foi completada por Huayana Capac (1450-1527) quando esse se amancebou com a princesa Paccha, filha do último soberano Cara do reino de Quito, nascendo dessa união Atahualpa (1502-1533). 
Huayana Capac já tinha outro filho com a sua esposa legítima que se chamava Huáscar (1503-1532) e antes de falecer dividiu os seus domínios entre os dois filhos. A Atahualpa coube o reino de Quito e a Huáscar os demais.

Houve desentendimentos e uma guerra entre os dois meio-irmãos. Atahualpa venceu Huáscar que ficou prisioneiro dele  até ser executado em 1533. Esta guerra civil onde houve muitos mortos e feridos, desorganizou o sistema de defesa dos incas, o que facilitou a conquista pelos espanhóis. Foi Diego de Almagro (1475-1538), ‘adelantado’ dos territórios do sul do Peru, que em 1535 organizou uma expedição ao Chile e passando por território boliviano fundou a cidade de Paria (próximo a Oruro).

Foi substituído por Juan de Saavedra (?) que também percorreu grande parte do território hoje boliviano.

As disputas de Francisco Pizarro (1471-1541) e Diego de Almagro (1475-1538) para ter o poder no Peru, atrasaram as conquistas dos espanhóis. Depois de Diego de Almagro ser derrotado e executado em Cuzco em 1538, Francisco Pizarro ordenou a Pedro Anzures, marquês de Campo Redondo (?) que preparasse uma expedição e seguisse o rumo sul para conquistar novos territórios. Em 29 de setembro de 1538 ele fundou a cidade de Charcas, que hoje é a cidade de Sucre.

Em 1549 Ñuflo Chaves (1518-1568) numa expedição com 50 homens chegou ao Chaco e passou para território paraguaio.

Em 1545, quando o pastor Quéchua Diego Huallpa regressava da pastagem com seu rebanho de lhamas, cansado, decidiu ao invés de ir para casa acampar e pernoitar no sopé do Cerro Rico. Para aquecer acendeu uma fogueira. No outro dia ao acordar, notou que entre as brasas havia filetes de prata derretida pelo fogo. Tinha descoberto as ricas minas de Potosi. A notícia espalhou rapidamente.
Em 1 de abril de 1545, um grupo de espanhóis liderados pelo capitão Juan de Villaroel (?) tomou posse do Cerro Rico e estabeleceu um povoado, que veio ser a cidade de Potosi.
Para possibilitar o uso de maquinaria para a retirada da prata, foram construídas 32 lagoas artificiais pelos espanhóis com a ajuda dos índios.

Durante os 300 anos de domínio espanhol, as minas de Potosi geraram ao império 3,6 bilhões de pesos de prata pelos direitos de mineração. A exploração das minas transformou Potosí em 1650, na maior cidade das Américas, com 160.000 habitantes.

Quando estava sendo exploradas as minas de Potosi, os argentinos forneciam mulas para os mineradores.

Os espanhóis estavam obcecados pelas minas de prata, onde empregavam grande quantidade de índios escravizados e o lucro era fabuloso. Com isso a agricultura, sem nenhuma atenção, com pouco lucro, foi definhando e o resultado foi a falta de alimentos.

Alonso de Mendoza (1471-1550) fundou a cidade de Nuestra Señora de La Paz no dia 20 de outubro de 1548.

Ñuflo Chaves (1518-1568) fundou Santa Cruz de La Sierra em agosto de 1557.

A primeira fundação de Cochabamba foi em 15 de agosto de 1571, quando Jeronimo de Osório conseguiu permissão do vice rei Francisco de Toledo (1515-1584) para fundá-la. Ele adquiriu as terras dos proprietários para estabelecer a cidade, sendo o prefeito até a sua morte em 1573. Sebastian Barba de Padilla, um ex- empregado de Osório, em 1º de janeiro de 1574 fundou pela segunda vez a cidade que já existia, com permissão também do vice rei. Mais tarde em 1786, mudou o nome para Cochabamba.

Em 1570, Juan Torres de Vera y Aragon (1535-1610) levou da Bolívia para Assuncion, cerca de 4.000 cabeças de bovinos, ovinos e equinos.

Em 1574 foi criada a Audiencia de Charcas e em 1624 foi fundada nessa cidade a ‘Universidade de San Francisco Javier’, uma das mais antigas das Américas.

Em 1661, aconteceu um levante popular liderado por Antonio Gallardo, que com o seu pequeno exército atacou e matou o governador Cristóbal Cañedo. Gallardo foi morto depois num combate.
Outro levante aconteceu em 1730 em Oropesa (Cochabamba) que foi debelado rapidamente pelos espanhóis.

Por determinação da Coroa espanhola, em 1776 a Audiencia de Charcas saiu da jurisdição do vice reinado do Peru e passou a pertencer ao vice reinado de Buenos Aires.

Em 1780 uma revolta indígena comandada por Tomas Catari, que agia sob a proteção de José Gabriel Condorcanqui o Tupac Amaru II (1742-1781), dominou Charcas, Oruro, Cochabamba e terminou alcançando La Paz.

Outra revolta aconteceu no mesmo ano também liderada por outro índio Julián Apasa (1750-1781), ou Tupac Katari, que tentou dominar La Paz, sitiando a cidade e depois de rechaçado na primeira tentativa, tentou mais duas vezes. Finalmente foram derrotados. Os corpos do líder e dos seus auxiliares diretos foram esquartejados e expostos em locais públicos.

A 16 de julho de 1809 alguns revolucionários liderados por Pedro Domingos Murillo (1757-1810) invadiram o quartel das tropas de La Paz, sequestraram os armamentos e dominaram a cidade. As forças espanholas revidaram vencendo a rebelião. Os líderes foram enforcados em 29 de janeiro de 1810.

Em 1810, um novo movimento pela independência chefiado por Manuel Estebán Arce (1765-1810) e  com a participação de Melchor Guzman, chamado Quiton e de Francisco Del Rivero (1757-1813) tentaram realizá-la. Conseguiram algumas vitórias, mas foram derrotados em 1811.

As lutas pela independência continuaram nos anos seguintes e em 1823, o general Andrés Santa Cruz (1792-1865), que tinha obtido o apoio de Simon Bolivar para atacar os espanhóis, foi vencido em La Paz. Simon Bolivar (1783-1830) e o seu importante comandante Antonio José de Sucre (1795-1830) revidaram e venceram duas importantes batalhas em Junin e Ayacucho, entrando na capital.

A 6 de agosto de 1825 a assembleia de representantes do povo reunida por solicitação de Bolivar em Chuquisaca, proclamou a independência do novo estado, que em homenagem a seu libertador ganhou o nome de ‘República de Bolivar’ sendo mais tarde trocado para Bolívia. Bolivar foi presidente por um curto período e renunciou. A assembléia elegeu Antonio José de Sucre (1795-1830) como presidente. Foi deposto em 1828 sendo substituído pelo marechal Andrés Santa Cruz (1792-1865) que governou durante 10 anos e promoveu uma confederação com o Peru.

O Chile preocupado com a ameaça desta união reagiu e atacou o Peru derrotando os exércitos confederados em Yungai no dia 20 de janeiro de 1839.

Em 1876, num golpe de estado, o general Hilarion Daza (1840-1894) assumiu o poder e para conseguir o apoio do povo empreendeu a Guerra do Pacifico (que durou até 1883), quando o Peru e a Bolívia enfrentaram o Chile e foram outra vez derrotados. O resultado foi dramático: a Bolívia perdeu o seu acesso ao mar para o Chile, como também o importante porto de Callao.

Em 1904 a Bolivia perdeu o Acre para o Brasil e em 1932 disputou o Chaco com o Paraguai e ganhou uma vasta área que deu acesso o país ao rio Paraguai, uma alternativa de transporte para alcançar o Atlântico.
Sobrevivem ainda na Bolívia algumas raças autóctones de bovinos descendentes dos animais trazidos pelos colonizadores. Uma delas é a raça Yacumeño criada nas planícies de Beni. Tem cor castanha, podendo variar do mais claro ao mais escuro e muitos animais têm em torno dos olhos, a cabeça e as extremidades na cor preta. A pelagem é sedosa e curta.

Em 1960/1961 a Bolívia tinha um rebanho com os seguintes detalhes:


Cabeças
Bovinos
1.830.000
Suínos
619.000
Equinos
191.000
Ovinos
5.965.000
Caprinos
1.700.000
Camelídeos
1.710.000









Apenas 3.091 mil hectares eram cultivados e com muita deficiência tecnológica. A agricultura não era importante para a economia boliviana. Desde os tempos coloniais o país tem na mineração a sua base econômica.

A população era de 3.462.000 pessoas.

Em 1960 foi produzido o seguinte:


Produção (tons)
Frutas
131.000
Folhas de coca
2.100
Café
1.121
Trigo
46.000







Em 1960 as exportações bolivianas totalizaram 51 milhões de dólares, tendo o seguinte perfil:

Estanho
58%
Chumbo
9%
Prata
8%
Zinco
5%
Outros produtos
20%







As importações totalizaram 67 milhões de dólares sendo um terço dos Estados  Unidos.
O rebanho bovino em 1965 era ainda pequeno e a Bolivia teve que importar gado em pé para  atender ao consumo:

Rebanho em 1965:


Cabeças
Bovinos
2.030.000
Suínos
703.000
Equinos
214.000
Ovinos
6.097.000
Caprinos
2.000.000
Camelídeos
1.500.000

Em 1965 agricultura é familiar e 71% da população ativa eram empregadas nesta atividade.
Produção dos principais itens:


Produção (tons)
Algodão
3.000
Cacau
2.500
Cevada
120.000
Batatas
720.000







Em 1965 tinha uma população de 3.714.000 habitantes, sendo que 80% vivia na região andina, na sua maioria de origem indígena.
As exportações eram de apenas 65 milhões de dólares e os principais produtos da pauta foram:

Estanho
72%
Chumbo
5%
Prata
5%
Outros
18%






As importações totalizaram 104 milhões de dólares e os principais produtos da pauta foram: 

Manufaturas
68%
Alimentos
24%
Matérias primas
7%
Gado em pé
1%






A partir de 1970 essa foi a evolução do rebanho boliviano em milhares de cabeças:


1970
1975
1980
1985
1990
1995
2000
2005
Bovinos
2.291
3.244
4.699
5.515
5.543
6.000
6.725
7.314
Caprinos
2.351
2.792
2.007
1.298
1.440
1.479
1.600
1.896
Equinos
290
340
330
293
320
322
360
447
Suinos
909
1.158
1.601
1.725
2.176
2.405
2.793
2.390
Ovinos
6.787
7.694
9.057
7.804
7.676
7.884
8.753
8.816
Camelideos
2.109
2.360
2.318
1.653
1.679
1.792
1.900
1.900



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