HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DE GADO ENTRE OS CITAS
Leopoldo Costa
A Cítia era o nome dado pelos latinos a uma antiga região da Eurásia que estendia ao norte do Cáucaso, do mar Negro e do mar Cáspio. Limitava a leste pelos rios Iaxartes e Tanais (Don) e a oeste pelo rio Danúbio e compreendia o que hoje é os territórios da Ucrânia, Rússia e parte ocidental da Sibéria.
Era habitada pelos Citas que tiveram na sua composição étnica povos de origens diferentes, com predominância aqueles de origem Ariana. A origem dos Citas foi na Sibéria ocidental mudando para o sul da Rússia no século X a.C.
Os primeiros habitantes da Cítia foram os Simérios, seminômades agricultores da Criméia. No século VII a.C os Citas, procedentes da Sibéria, atacaram e expulsaram os Simérios. Vieram para a região fugindo do ataque dos Hunos.
A civilização dos Citas floresceu nos séculos VII e II antes de Cristo. O primeiro reino foi estabelecido por Atei no século IV a. C., que edificou a capital a cerca de 130 quilômetros da atual cidade de Dniepropetrovsk (Ucrânia central), às margens do rio Dnieper.
Falavam uma língua indo iraniana, mas não tinham um sistema de escrita. Eram hábeis cavaleiros e usavam desta habilidade para empreender invasões e conquistas de territórios, como a Mesopotâmia onde derrotaram o rei Ciaxares I, e a Síria no século VII a.C.
Mais tarde invadiram e ocuparam o Egito onde permaneceram até serem convencidos a sair pelo rei Psamético em troca de valiosa recompensa.
Tentativas de invadir o reino de Judá na Palestina foram repelidas, mas as incursões pelos Balcãs no século III a.C foram bem sucedidas. Mais tarde quando foram expulsos dos Balcãs invadiram o território dos Celtas.
Após a saída do Egito, o rei Ciro II da Pérsia (reinou de 559 a 529 a.C) organizou uma expedição para combater os Citas, na qual veio a morrer em 529 a.C. Um dos seus sucessores Dario I (reinou de 521 a 486 a.C.) invadiu a Cítia e expulsou os habitantes da capital.
Durante séculos, os Citas atacavam os reinos vizinhos mais fracos, formados pelo desmembramento do império asiático de Alexandre, o Grande (356-323 a.C), e também invadiram a Índia. Na Índia permaneceram por mais de seis séculos, onde integraram e assimilaram a civilização indo-ariana e adotaram a religião budista.
Era normal nas guerras que os Citas escalpelassem suas vítimas e pendurassem esses macabros troféus em suas selas.
A sobrevivência nas estepes geladas foi possível com uma alta especialização no trato dos animais. A economia do reino era baseada na criação nômade ou seminômade de equinos, bovinos e ovinos. A base alimentar do povo era a carne destes animais. Tinham que constantemente mudarr em busca de novas pastagens, passando a primavera e o outono na estepe e o verão e o inverno junto aos rios onde construíam seus abrigos.
Também controlavam o comércio de cereais que eram produzidos nas fazendas das estepes dos vales dos rios.
A riqueza de muitos aristocratas foi adquirida durante as guerras ou em pilhagens de cidades, como também do comércio de escravos para a Grécia. Tinham uma vida de luxo, consumindo exóticas iguarias e os ótimos vinhos que importavam da Grécia.
Uma característica de sua cultura eram os túmulos (‘kurgans’), encontrados pelos arqueólogos no vale do rio Dnieper, onde eram sepultados os aristocratas deste povo com todos os seus utensílios de valor, incluindo até os seus cavalos. Numa escavação em Szentes-Vekerzug na Hungria, foi encontrada num túmulo uma carruagem fúnebre com os esqueletos de dois cavalos atrelados.
Os arqueólogos recolheram diversos objetos finamente decorados destes túmulos demonstrando influências da arte grega e da Pérsia. Criaturas míticas zoomorfas e cenas de caçadas são uma constante nestas decorações. Algumas vezes podem ser observadas cenas do dia a dia da lida com o gado e de aprisionamento de cavalos, este último encontrado as margens do rio Dnieper, numa ânfora de prata datada do século IV a. C. em Chertomlyk, na Ucrânia.
Segundo Heródoto (485-430 a.C.), quando morria um chefe Cita, seu corpo era embalsamado, posto numa carroça puxada por cavalos e levado em procissão ao longo do território do império para ser reverenciado pelo povo.
Os cavalos eram equipados com selas e arreios bem adornados e colocavam enfeites nos focinhos dos animais.
A criação de gado na região do Cárpatos foi bem desenvolvida e documentada por grande quantidade de ossos, restos de cercas e de currais encontrados nos sítios arqueológicos. Além de ossos de animais menores (ovinos e caprinos) foram encontrados ossos de cavalos misturados nos restos de comida, indicando que a sua carne era usada na alimentação do povo. Não foram encontrados grande quantidade de ossos de porco e aves pois não eram muito consumidos.
As mulheres eram totalmente submissas aos homens, sendo a poligamia praticada em todo o império. Os filhos herdavam as esposas do pai. Não eram acostumados a banhar-se com água, tomavam apenas banhos de vapor.
A religião era baseada no culto à natureza, sendo as principais divindades Tabiti e Ares. Não edificavam templos e nem altares aos seus deuses, mas ofereciam sacrifícios humano dos prisioneiros de guerra para homenageá-los.
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