HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DE GADO ENTRE OS MONGÓIS

Leopoldo Costa

Os Mongóis eram um povo de pastores nômades, que viviam acompanhados dos seus rebanhos, buscando sempre as melhores pastagens para eles. Habitavam a parte mais oriental da Ásia. Estavam separados da China pelo deserto de Gobi.

Agrupavam-se em três dezenas de tribos e clãs beligerantes, que ficavam guerreando-se entre si. A história e as lendas apresentam os Mongóis s como um povo feroz e cruel. Segundo os estudiosos, esta ferocidade e crueldade foi moldada no ambiente áspero e hostil em que sobreviveram. No verão, o calor produzido pelo ar quente que soprava do deserto de Gobi era insuportável. No inverno, os ventos frios vindos da Sibéria varriam a terra, fazendo a temperatura atingir níveis baixíssimos.

Gengis Khan(1162-1227), supostamente um descendente de Kabul Khan da clã Bojigin, chamava-se Temudjin. Conseguiu reunir algumas clãs e tribos e formou um exército. Em 1206, foi proclamado pelos cãs de todas as tribos, como Gengis Khan, o Cã dos Cãs. Tomando posse do cargo estabeleceu um sistema de leis para impor ordem aos nômades, até então independentes e belicosos ente si. O seu exército foi reforçado e preparado para conquistas.

Em 1207 conquistou e dominou o reino de Hsi Hsia, no norte da China. O objetivo era aumentar a área de pastagens para o rebanho mongol. O exército do Império Chinês veio em socorro e foi também dominado, sendo obrigado a pagar um grande tributo, incluindo até a filha do governante que foi a escolhida como segunda esposa de Gengis Khan. Vislumbrando a possibilidade de dominar toda a China, o exército ultrapassou a Grande Muralha e marchou a caminho da capital Pequim. Pequim era protegido com altas muralhas de mais de 12 metros de altura e não foi possível realizar a invasão. Ordenou que o exército ficasse acampado em torno da cidade e não permitiu a entrada de suprimentos. 

Deixou alguns generais para completar a conquista, que com o exercito chinês debilitado pela falta de alimentos, construíram catapultas e finalmente invadiram a cidade.
Em 1218, quando estava na China, recebeu a cabeça decepada de um general mongol que tinha sido enviado pelo rei de Kharizm, um reino turco no norte da Pérsia. Comandando um exército de 200.000 homens capturou todas as cidades fortificadas da Pérsia e matou mais de um milhão de pessoas, conquistando e dominando o país.

Em 1227, enquanto os generais de confiança de Gengis Khan conquistavam territórios no sul da Rússia e na Ucrânia, ele foi forçado a retornar a China para conter uma revolta em Hsi Hsia. Venceu os revoltosos e morreu vitimado por uma virose e com febre altíssima.
Foi sucedido pelo seu filho Ogedei (reinou de 1229 a 1241) que expandiu o Império Mongol da Síria a Indochina, da Pérsia a Sibéria e da Hungria a China. O império só não foi maior do que o conquistado por Alexandre, o Grande.

No século XIII, Kublain Khan (1215-1294), neto de Gengis Khan foi o responsável pela dominação total e reunificação da China, fundando a Dinastia Yuan. A opulência de sua corte impressionou o aventureiro Marco Polo (1254-1324), que durante 17 anos, exerceu o cargo de embaixador do império apontado pelo próprio Kublain Khan.

O primeiro europeu a chegar a terra dos mongóis, foi o frade franciscano Giovanni da Pian del Carpine (1180-1252) em 1245, como enviado do papa Inocêncio IV (1195-1254). Ele deixou o seu depoimento sobre os mongóis: 'seu aspecto é bastante diverso de todos os outros homens. Têm zigomas e maxilares muito largos e salientes, nariz chato e curto, olhos pequenos e pálpebras que subiam até as sobrancelhas. Quase todos são de estatura pequena, a maior parte tem pouquíssima barba, alguns, entretanto, tem sobre o lábio superior e no queixo uns pelos que jamais cortam. No topo da cabeça, uma coroa de cabelos e de uma orelha a outra, numa largura de três dedos, cabelos raspados. Com o que sobram deixam crescê-los como as mulheres e fazem duas tranças, que unem atrás das orelhas.(...) cada homem pode ter tantas mulheres quantas possa sustentar, e pode casar-se com qualquer parente, menos a mãe, as filhas e as irmãs. Depois, da morte de um irmão, o irmão mais jovem é obrigado a casar com a viúva. E uma viúva, por sua vez, só pode casar de novo se alguém casar com sua sogra.(...).’
Também escreveu sobre os hábitos dos mongóis: ‘(...) algumas habitações são desmontáveis e podem ser carregadas sobre bestas ou em carros puxados por bois. Para qualquer lugar que vão, mesmo se o rumo for a guerra, os mongóis transportavam as suas casas. (....) são muitos ricos em animais: cavalos, bois, ovelhas, cabras e cavalos. Tem uma multidão de jumentos que não acreditávamos haver em todo o mundo (...)’.
Em 1275, Marco Polo (1254-1324), acompanhado pelo seu pai Nicolau e seu tio Maffeo, seguindo a ‘rota da seda’, chegou à Mongólia. Esta viagem é relatada até no ‘Livro de Marco Polo’ que trouxe ao Ocidente o conhecimento (bastante fantasioso) daquele mundo, na época governada pelo imperador Kublai Khan.
A religião tradicional dos Mongóis era o Xamanismo1. No século XVI o Budismo2 foi introduzido. Como resultado das influências das duas religiões, criou-se uma religião sincretizando as duas que chamaram Lamaismo.

Os Mongóis ficaram famosos pelos seus bonitos cavalos, pela habilidade que tinham na caça e pela perseguição cruel e inexorável que faziam contra os agricultores que cultivavam verduras e legumes. Não gostavam de comer verduras e legumes. Inventaram a carne moída para poder consumir as carnes de pouca qualidade que produziam. Dizia Kublai Khan que 'carne é comida para homens, capim (i.e. verduras) é comida de animais. '
Kublai Khan, mais tarde, converteu-se ao Budismo e passou a gostar de um ‘crepe de legumes’ ou de um cremoso ‘molho de açafrão’. Porém, a maioria dos mongóis permaneceu com a preferência pela carne.

Um prato típico da época, que até hoje é consumido na região, era uma sopa de macarrão com pedaços grandes de carne de cordeiro, temperado com ervas e cominho.
Preparavam a carne grelhada ou assada, de cavalo, de iaque ou de cachorro, com muita mostarda, sendo degustada acompanhada pelas típicas bebidas feita a base de leite de égua, como o ‘airag’ (leite de égua fermentado com teor alcoólico próximo de 3%) e o ‘suutei tsai’, (chá temperado com leite de égua e sal), muito populares entre os mongóis.
O peixe era pouco consumido.

No dia a dia, pela manhã faziam uma ligeira refeição a base de carne e passavam o dia inteiro sem comer. À noite bebiam bastante ‘airag’ e comiam mais carne.  Tendo uma alimentação baseada em carne e leite, os mongóis criaram alguns produtos diferenciados. Dentre eles, se destacam alguns tipos de carne dessecada e o aproveitamento do tutano dos ossos dos bois.

Para o povo Mongol, o cavalo era o bem mais precioso. Estes viviam soltos na pradaria em manadas de até 10.000 animais e eram capturados com laços presos na ponta de longas varas flexíveis, sendo depois, confinados em recintos seguros. Tratados com o maior cuidado, os cavalos eram domados jovens, porém, nunca montados antes de completar três anos de idade.

O imperador Gengis Khan (1162-1227) estabeleceu normas rígidas para o uso dos cavalos, entre as quais a proibição de que a montaria fosse guiada com freio na boca.
Um animal impróprio para a montaria podia ser abatido e usado como alimento, mas, um animal que tivesse participado de uma batalha, jamais poderia ser abatido para servir de alimento, mesmo se ferido de morte. Tinha que ser deixado para morrer.

Nas expedições de guerra, cada soldado, tinha direito a dois animais de reserva. Trocando periodicamente de montaria podia cavalgar sem parar durante vários dias, comendo na sela e fazendo apenas algumas paradas rápidas. Quando a comida era escassa eles sangravam no pescoço um dos animais-reserva e bebiam o seu sangue.

Nos funerais de um chefe Mongol era costume enterrar junto dele, uma égua, um garanhão e um potrinho, para que ele pudesse cavalgar e continuar a criar cavalos no outro mundo.


[1] O Xamanismo é uma crença de origem asiática cujo principal objetivo é a busca interior. É um conceito de vida que busca no autoconhecimento a chave para o equilíbrio do ser. A palavra xamã tem origem na tribo siberiana dos Tugus. O Xamanismo não é uma crença unificada, está presente em diversas culturas.
Trabalha com o respeito pelas forças da natureza, com rituais vividos por qualquer tipo de pessoa, envolvendo cristais, fogo, água, metal e madeira.

[2] Budismo é uma religião e filosofia baseada nos ensinamentos deixados por Siddhartha Gautama, o Buda histórico, que viveu aproximadamente entre 563 e 483 a.C. no Nepal. De lá o Budismo se espalhou através da Índia, Ásia, Ásia Central, Tibete e Sri Lanka (antigo Ceilão).
Os ensinamentos básicos do Budismo são: evitar o mal, fazer o bem e cultivar a própria mente. O objetivo é o fim do ciclo de sofrimento, 'samsara', despertando no praticante o entendimento da realidade última - o Nirvana.




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