HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DE GADO NO MÉXICO


Leopoldo Costa

Os primeiros europeus que chegaram ao México foram os sobreviventes de uma expedição de Diego de Nicuesa (1464-1511) que naufragaram nas costas de Yucatán em 1512. Entre eles estava Jerônimo de Aguillar (1489-1531).

Em 1517, desembarcaram no cabo Cotoche, em Yucatán, Francisco Hernandez de Córdoba (1475-1526) e Antón Alaminos (1475-1520). Voltando a ilha de Cuba relataram ao governador Diego de Velásquez (1599-1660) a sua descoberta.
No ano seguinte o governador enviou Juan de Grijalva (1489-1527) com quatro navios e 200 homens para tomar posse do território.

Juan de Grijalva desembarcou na ilha de Cozumel, explorou a costa de Yucatán e descobriu o rio que tem hoje o seu nome, navegando até a ilha de San Juan de Ullua. Foi ele quem preparou o terreno para a expedição de conquista de Hernan Cortez (1485-1547) em 1519.

Hernan Cortez zarpou de Cuba no dia 10 de fevereiro de 1519 com nove navios, 110 marinheiros, 508 soldados, 32 besteiros, 13 arcabuzeiros, 11 cavalos, 5 éguas, 10 peças de artilharia e quatro falconetes. Também embarcou porcos, carneiros e galinhas e algumas cabeças de bois e vacas da Andaluzia, com o propósito de estabelecer fazendas de criação para garantir o fornecimento de alimentos para a sua tropa. Em Cozumel resgatou Jerônimo de Aguillar (1489-1531), náufrago da expedição de Diego de Nicuesa (1464-1511).

Quando chegou ao México, Montezuma ou Motctezuma II (1466-1520), imperador dos astecas, acreditou que era o deus Quetzalcoatl que chegava para vingar-se. A chegada de Cortez ao México em 1519 coincidiu com a data do calendário maia que indicava a chegada de Quetzalcoatl para retormar a cidade de Tenochtitlán.
Empenhado em conquistar o império asteca, Cortez mandou que se queimasse os navios para não ter como voltar atrás. Auxiliado por sua amante nativa Marina de Viluta, alcunhada La Malinche, criou uma rede de alianças com os povos inimigos dos astecas que assegurou sua vitória em Otumba e a tomada de Tenochtitlan em 9 de novembro de 1519.

Em 1520 aconteceu a chamada 'Noite Triste' (de 30 de junho a 1 de julho de 1520), com a morte de Montezuma, que, segundo Cortez, foi atingido por uma pedra quando tentava acalmar seu povo e acabou morrendo três dias depois em razão do ferimento. Em 1522, Cortez venceu o exército dos astecas e destruiu Tenochtitlan, quando ele foi, nomeado ao mesmo tempo, governador e capitão-general.

Em 1525, foi executado o último rei asteca, Cuauhtemoc (1502-1525), que era sobrinho de Cuitlahuac (1476-1520), este que era irmão de Montezuma II. Carlos V (1500-1558), porém, não ficou satisfeito a atuação de Cortez e reduziu o seu poder. Em 1528 solicitou o seu regresso a Espanha, onde foi consolado com um titulo honorifico e voltou em 1529 para assumir apenas o comando militar da nova colônia, cujo governo foi confiado a uma Real Audiência presidida por Nuño de Guzman (1490-1544), que ficou no posto de 1528 a 1530. Nuño foi um dos mais tiranos governantes e pela sua crueldade foi deposto e enviado preso para a Espanha. Todavia, conseguiu explorar e colonizar o noroeste do México e fundou a cidade de Guadalajara. Seu sucessor foi o bispo Sebastian Ramirez de Fuenleal (1490-1547) que governou de 1530 a 1535.

Em 1521 Gregorio Villaboa (?) desembarcou no México dezenas de cabeças de gado de origem espanhola provenientes de Santo Domingo.

Cristóvão Colombo (1451-1506) na sua segunda viagem em 1493 trouxe algumas cabeças de gado bovino, suíno e eqüino que foram desembarcados na ilha de La Hispañola (atual Haiti e República Dominicana), supõe-se que algumas crias deste gado tenham chegado à costa mexicana.
Em 1521, desembarcaram mais alguns bovinos.

A família de Hernán Cortez mandou importar de Navarra na Espanha no ano de 1522, 12 bovinos já treinados para tracionar arados e carroças.

Em 1525, foi desembarcado em Vera Cruz algumas vacas leiteiras.

Cultivando a paixão dos imigrantes espanhóis, em 1529 já era realizada a primeira corrida de touros, o que é contestado por Oteiza, que data de 1540, esse primeiro acontecimento.
Em 1555, o segundo vice-rei de Nova Espanha Luis de Velasco (1511-1564) organizou uma grande tourada onde foram apresentados 60 touros todos provenientes da região de San Nicolás Parangueo que já se havia se especializado na criação de animais para touradas.

Em 1540, aconteceu o desembarque de uma quantidade maior de bovinos que se espalharam para o interior do país.

Os primeiros ovinos foram desembarcados em 1525 e prosperaram principalmente no planalto central.

Os primeiros suínos como vimos antes, chegaram com Hernando Cortez (1485-1547) em 1518, outro lote um pouco maior, chegou antes de 1524 e ambos desenvolveram tanto que se tem noticias que em 1531 a oferta de carne de porco era maior do que a população podia consumir e os preços desabaram. A ninguém interessava mais cuidar das crias das porcas, que depois, do desmame, eram abandonados, morriam sem alimentação ou fugiam para as matas onde eram atacados por feras.
Em 1541, Cortez estabeleceu a sua própria fazenda, depois, de ter providenciado, com o seu prestigio, a vinda de centenas de cabeças de gado de melhor qualidade da Espanha. Foi o primeiro nas Américas a usar a marcação do gado a fogo, aplicando em suas cabeças de gado a marca da ‘Santíssima Trindade’, que consistia em um triângulo com três cruzes.

Seguindo o exemplo de Cortez e para coibir o roubo de gado e facilitar a imposição de taxas, a Coroa espanhola determinou que todo gado deveria ser marcado à fogo. As marcas de cada fazendeiro deveriam ser registradas na Mesta, criada na cidade do México em 1429, nos moldes da existente na Espanha, sendo a primeira associação de criadores de gado do Novo Mundo.

O sobrinho de Cortez, Juan Suárez de Peralta, escreveu entre 1575 e 1580 o primeiro tratado de veterinária das Américas, conhecido como ‘El Libro de Albeiteria’ onde instrui entre várias coisas, como cuidar e curar as moléstias dos cavalos.

A partir de 1580 começou a ocorrer uma diminuição do rebanho bovino. Não se pode considerar uma decadência, mas, um processo natural de acomodação exigida pelas condições de redução de pastagens e falta de consumidores, além de uma legislação restritiva que estabelecia a quantidade máxima de gado que cada fazenda podia possuir.

Depois, da conquista, a forma que os espanhóis foram ocupando a terra, não obedecia a nenhum regulamento ou controle da coroa. Simplesmente se apossavam de áreas já cultivadas e aproveitadas pelos indígenas. Estas grilagens somadas algumas vezes com a compra ou arrendamento de outras áreas, deram origem as ‘fazendas’.

Durante o século XVII a palavra 'fazenda' no México, antes com outros significados, passou a designar uma propriedade rural importante. A ‘fazenda’ passou a ser a principal unidade econômica na Nova Espanha. Converteu-se em um núcleo autossuficiente e o proprietário passou a ter grande poder econômico e político. Esta forma de estabelecimento permaneceu e continuou existindo durante os séculos XVII, XVIII e XIX.
Famosas ‘fazendas’ foram a ‘San José de la Laguna’ fundada em 1908, A ‘Rancho Seco’ fundada em meados do século XIX, a ‘Mazzarraca-Tenexac, fundada no final do século XVII e a ‘San José Atlanga’ em 1890.
A estrutura das ‘fazendas’ coloniais era constituída por um centro habitacional chamado de ‘casco’ onde se encontrava a ‘casa grande’, a moradia do fazendeiro e sua família, com muito conforto e até luxo. A área era cercada por altos muros de pedra. No mesmo recinto ficavam os escritórios, a cadeia, os currais e estábulos, a horta onde eram cultivados verduras e legumes e uma pequena escola para os filhos dos empregados.
Também existiam moradias mais modestas destinadas ao pessoal de confiança do fazendeiro, como o guarda-livros, o mordomo e o administrador. Uma capela era muito importante e era dedicada ao santo de devoção do proprietário onde eram realizados os serviços religiosos que eram frequentados por todos. Tinha ainda um moinho para moer os cereais e as humildes casas dos peões chamados de ‘acasillados’, que não recebiam ordenados e sim o direito de morar.
Fora do ‘casco’ distando uns 1.000 metros, estava localizada a ‘leviadrilla’ o local onde estavam construídas as casas de adobe para os peões. Estas eram de piso de terra batida, geralmente sem janelas e todas dando frente para uma única rua de terra, tudo na maior miséria. No fim da rua existia uma pequena mercearia (venda) e nela se vendia tudo aquilo que os empregados precisavam como roupas rústicas, milho, feijão, sabão, aguardente e outros. Estes produtos eram vendidos a prazo e a preços extorsivos, anotando numa caderneta o que cada família gastava e tudo era descontado no ordenado do final do mês. Muitas famílias não recebiam nada e ainda ficava com dívidas para o mês seguinte. As dividas contraídas mantinham os empregados na ‘fazenda’, sem oportunidade de poder sair.
Na ‘fazenda’ existia uma divisão de trabalho e uma hierarquia baseada no oficio de cada um. O administrador era o chefe e tinha que ser uma pessoa de maior conhecimento e sob sua responsabilidade estava toda a lida da ‘fazenda’. Tinha que entender de agricultura e também de criação de gado.
Seus subordinados eram: os empregados (peões) colonos que cuidavam da lavoura e do manejo do gado durante o ano inteiro e moravam em casas da própria ‘fazenda’ e os empregados (peões) temporários que só trabalhavam na ‘fazenda’ na época da colheita e geralmente recebiam os seus salários por semana e moravam nas proximidades em vilas e cidades. Em algumas ‘fazendas’ existia também o trabalho escravo dos índios.

Como uma colonização de exploração a Coroa espanhola estava mais interessada na mineração de ouro e prata. A função reservada para as ‘fazendas’ que foram se formando, era produzir cereais e criar gado em grandes latifúndios, para abastecer as minerações. Era uma atividade subsidiária.

Atravessando o rio Grande, manadas de bois foram aproveitar as boas pastagens naturais do Texas (que ainda fazia parte da colônia espanhola) e deram o início da criação de gado nos Estados Unidos.
Durante o período colonial o preço da carne era controlado pelo governo. Os preços eram estabelecidos o mesmo para todos os cortes, assim, comprando um filé mignon ou a carne de pescoço pagava-se a mesma quantia.

A carne bovina era considerada comida de pobre, os ricos e os aristocratas consumiam a carne de cordeiro.
O México tradicionalmente tem-se caracterizado por ser um país com grande vocação para a criação de gado. Conta com grandes áreas onde sempre foram criados bovinos ovinos e suínos.

Em 1930 o rebanho bovino mexicano era de 10,1 milhões de bovinos, 1,9 milhão de equinos, 3,7 milhões de suínos e também 3,7 milhões de ovinos.

Em 1940 decaiu para 7,9 milhões de bovinos, 1,7 milhão de eqüinos e 3,2 milhões de ovinos. Manteve-se inalterado o rebanho de suínos. Como a população humana era de 19,7 milhões de pessoas, existia o 
equivalente a 0,4 cabeça de bovino por habitante.

Evolução do rebanho nos últimos 45 anos:

(000)
1961
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1995
2000
2005
Bovinos
16.500
19.318
22.798
24.301
27.442
31.489
32.054
30.191
30.524
28.727
Caprinos
8.928
9.300
8.818
9.067
9.638
10.981
10.439
10.133
8.704
6.260
Equinos
4.047
4.600
5.743
6.355
6.205
6.135
6.170
6.200
6.250
6.260
Suinos
5.988
8.929
10.298
13.179
16.890
17.233
15.203
15.923
16.088
15.342
Ovinos
5.853
6.073
6.113
6.330
6.482
6.373
5.846
6.195
6.046
7.624
 Fonte: FAO adaptados pelo autor

A indústria de carne é a terceira mais importante no México dentro do setor de alimentos processados, atrás apenas da indústria de laticínios e panificação. Durante diversos períodos teve crescimento muito expressivo. No período entre 1988-1993, cresceu uma média de 29% ao ano.

A base alimentar da população mexicana é representado por cereais (principalmente milho) e carne. O consumo de carnes em 1997/1998 foi uma média de quatro milhões de toneladas, das quais 35% de bovinos, 25% de aves, 25% de suínos e o restante de cabritos e cordeiros.




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