HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DE GADO NA ARGENTINA

Leopoldo Costa

OS PRIMÓRDIOS

A criação de gado nos pampas argentino começou com Pedro de Mendoza (1487-1537), o primeiro fundador de Buenos Aires (Buenos Aires foi fundado duas vezes), que em 1536 trouxe para a região os primeiros 72 cavalos. Em 1541 os habitantes da povoação, devido ao ataque dos índios, tiveram que abandoná-la deixando soltos 5 éguas e 7 cavalos. A descendência destes animais foi a origem do rebanho de equinos selvagens que os argentinos chamam de 'baguales.' Estes cavalos foram domesticados pelos índios Guaranis e Charruas e usados nos combates contra a invasão dos europeus.

Em 1549 Juan Nuñes de Prado, conquistador espanhol fundador da cidade de Santiago Del Estero, introduziu na região de Tucumán algumas vacas e ovelhas que trouxera de Potosi, hoje na Bolívia.

Em 1550 Ñuflo Chaves (1518-1568), que mais tarde fundou Santa Cruz de La Sierra na Bolívia (1561) desembarcou em território argentino o primeiro ovino.

Em 1552 Juan de Salazar y Espinosa (1508-1560), o fundador de Assuncion, descarregou sete vacas e um touro.

Em 1570 Juan Torres de Vera y Aragon (1535-1610) fez chegar 4.000 cabeças de bovinos e 4.000 ovinos à Argentina, distribuindo-as entre os colonos das recém-fundadas cidades, tendo todo este gado multiplicado bastante e produzido em consequência a primeira sobra de carne da história da Argentina. No mesmo ano de 1570 levou para Assuncion, no Paraguai, procedente do Alto Peru, cerca de 4.000 cabeças de bois, vacas, ovinos e cavalos.

Em 1580 Hernando Arias de Saavedra (1564-1634), neto da segunda ‘adelantada’ Mencia Calderon y Ocampo (1514- ? ) na época com apenas 16 anos, montado à cavalo tocou até a região hoje ocupada por Santa Fé, uma boiada de 3.000 cabeças. Também conhecido como Hernandárias, foi nomeado governador de Buenos Aires em 1602.

Juan de Garay (1528-1583) que foi o segundo fundador de Buenos Aires em 1580, também trouxe de Assuncion algumas dezenas de cabeças de bois e vacas das raças Andaluza e Ibérica, que escapando dos improvisados currais, ficaram soltas nas pradarias e no estado semi-selvagem puderam reproduzir geometricamente, ajudando a povoar os pampas.

Com a conquista do Chile e a fundação de Santiago em 1541, por Pedro de Valdivia (1498-1553), muitos espanhóis levaram algumas cabeças de gado. Procurando expandir o território conquistado, transpuseram a cordilheira dos Andes e atingiram o território hoje argentino. Isto aconteceu entre 1550 e 1590.

Em 1551, Francisco de Aguirre, (1508-1581) fundou uma fazenda de criação na região de Mendoza.

Em 1557, o conquistador espanhol Juan Perez de Zurita (1516-1595) trouxe um rebanho de bovinos para a região argentina de Santiago del Estero.

Principalmente nos pampas, parte dos animais fugitivos de Buenos Aires e não capturados pelos índios, foram criados em liberdade, procriaram e não era propriedade de ninguém. Com a chegada de mais colonos da Espanha começou a haver conflitos pela posse destes animais. Em 1589, o cabildo de Buenos Aires, tentando reconciliar os interesses dos colonos obrigou a marcação de todo o gado á fogo e o registro destas marcas. Foi Francisco Salas Vidella o primeiro a registrar a sua marca no dia 19 de maio de 1589.

Em 1596, o governo colonial espanhol que estava sediado em Assuncion, publicou uma norma que declarava que os bovinos que viviam em estado selvagem nas proximidades de Buenos Aires poderiam ser capturados e abatidos por qualquer pessoa, pois não era propriedade de ninguém. Esta caçada foi regulamentada em 1609, pelo cabildo de Buenos Aires, que limitava o número dos animais que poderiam ser capturados e abatidos.

Na época chegaram a ser abatido animais apenas para aproveitar o couro e o sebo, deixando o resto para as aves de rapina e cachorros do mato. Estes animais eram caçados por um grupo de homens que à cavalo e acompanhados por cães adestrados saiam em busca das manadas. Escolhiam alguns animais e com a ajuda dos 'desjarretaderos' (uma vara comprida com uma faca na ponta), cortavam os tendões dos animais que caiam abruptamente e ficavam prostrados no chão. Eram então sangrados.

Quem lidava com este trabalho eram geralmente homens fugitivos da justiça e que não gostavam de trabalhar o dia inteiro e eram chamados de 'gaúchos' ou 'gaudérios'. Mais tarde este apelido foi reabilitado e genericamente aplicado a todos aqueles que lidavam com o gado. ‘gaudérios’ ou ‘gaúchos’ viviam galopando nos pampas montando garbosos cavalos.

Pedro Lozano (1697-1752), um jesuíta que visitou os pampas em 1752, deixou registros que viu em poucos dias serem abatidos deste modo mais de 2.000 novilhos e touros.

Em 1774, o padre jesuíta, Tomás Falkner (1702-1784) escreveu no seu livro ‘Descrição da Patagônia’, que viu muitos milhares de cavalos, e ainda segundo ele, manadas passavam em correria próximas ao seu acampamento durante 3 ou 4 horas sem parar.

Félix de Alzaga (1792-1841), militar argentino, estimou que no início do século XVIII existiam nos pampas, em ambas as margens do rio da Prata, cerca de 48 milhões de cabeças.

Depois, da época das caçadas que os estudiosos denominam ‘Fase da Vacaria’ veio a ‘Fase do Rodeio ’. O gado começou a ser propriedade de algumas pessoas e a sua separação e identificação causavam alguns conflitos. O problema de quem era proprietário dos rebanhos estava resolvido, mas eles continuavam a pastarem nos mesmos locais e não havia divisões das pastagens.
Exigiu-se então o controle da posse das pastagens. Em dezembro de 1608 o cabildo de Buenos Aires estabeleceu a exigência do registro de propriedade das pastagens.

O gado sendo então propriedade privada continuava a ser caçado pelos índios que não aceitavam esta privatização e também pelos cães selvagens que atacavam as crias causando prejuízos para os proprietários. Com o estabelecimento das propriedades sobre as terras surgiram as estâncias. No primeiro momento os limites entre elas eram os acidentes naturais como rios e ribeirões.

Uma das primeiras estâncias estabelecidas legalmente foi em 1636 o ‘Pago de Magdalena’ na província de Buenos Aires de propriedade de Francisco Velásquez Melendez. Seus limites eram o rio Samborombón até a cidade de Magdalena. Fazia parte de um lote de 17 ‘mercedes reales’ distribuídas no território limitado pelo Riachuelo, rio da Prata, rio Salado, laguna do Monte e as nascentes do rio Matanza.

Diz a lenda, que a abundância de carne na região de Buenos Aires era tanta, que no transporte, quando os quartos de carcaça caiam das carroças dos açougueiros eles nem se davam ao trabalho de recuperá-las.

OS SALADEROS

Foram instalados os primeiros ‘saladeros’, com o objetivo de salgar a carne e enviar o produto para a costa da Patagônia e as ilhas Malvinas. Mais tarde vieram a exportar para o Brasil e para Cuba que usavam a carne seca e salgada para a alimentação dos escravos.

O primeiro ‘saladero’ foi construído em 1799 por Agustín Wright na enseada de Barragán.
Em 1815, Juan Manuel de Rosas (1793-1877) fundou o primeiro estabelecimento industrial para o processamento de carnes salgadas ao sul do Riachuelo, na estrada de ferro de Quilmes a Ensenada (Las Higueritas). Era uma sociedade dele com Juan Nepomuceno Terrero e Luís Dorrego. O galpão de salga tinha sido construído com outra finalidade e pertenceu ao pai do general Wenceslao Paunero. Exportou grande quantidade de carne salgada e seca (charque) para o Brasil e Cuba, obtendo bons resultados financeiros o que atraiu outras indústrias como as de Pedro Trápani, Miguel Irigoyen, Mariano Durán, José Cálzena, Jorge Zemborain e Pedro Capdevilla. Além de carne salgada e seca (de bovinos, equinos e ovinos), produzia peixes salgados, lã, couros para exportação e sebo para sabão e velas. Em 1817, as instalações da fábrica foram transferidas para uma estância em San Miguel Del Monte.

Em 1817, o governo de Buenos Aires proibiu as atividades de salga de carne porque devido aos hábitos de consumo estava faltando carne bovina para o abastecimento da cidade. A proibição durou pouco tempo.

Um pouco mais tarde foram construídos ‘saladeros’ em Buenos Aires como o de propriedade de Marcos Balcarce e Felipe Piñeyro.

Em 1849, Enrique Ochoa instalou uma fábrica de carne seca em Paso de Burgos.

Em 1857, um consórcio brasileiro-português liderado por Coelho de Meirelles adquiriu terras na região hoje ocupada pela cidade de Mar Del Plata e construiu um ‘saladero’. O estabelecimento funcionou enquanto Coelho de Meirelles esteve em frente do negócio. Com o seu falecimento foi desativado.

Em 1856, José Gregório Lezama vendeu as propriedades de Laguna de los Padres, La Amonya e San Julián de Vivoratá para um consórcio de investidores brasileiros e portuguêses liderados pelo Barão de Mauá.

O jornal ‘El Nacional’ na sua edição do dia 14 de agosto de 1856 informava que ‘un consorcio portugués adquirió una extensión de 52 léguas de campo, 7 léguas de costa y donde hay no menos de 115.000 cabezas de ganado manso y alzado, yeguarizo y lanar’. Esse latifúndio abrangia a foz do arroio San Ignacio, Las Chacras, hoje dentro da cidade de Mar Del Plata, tinha um ‘saladero’ localizado em Punta Iglesia, que mais tarde foi transferido para a praça delimitada pelas ruas Luro, Alberdi, Corrientes e Santa Fé onde havia um curral de pau a pique onde o gado aguardava o abate.

Em 1868, o governo da Argentina oferecia uma recompensa de US$ 8.000 a quem descobrisse um método eficiente para conservar a carne fresca.

Por falta de higiene no processamento dos produtos e devido a epidemias de doenças que grassavam em Buenos Aires nos anos de 1868 e 1871 o governo da província veio a proibir qualquer ‘saladero’ nos limites da municipalidade da capital. Todos tiveram que encerrar as atividades ou transferir as instalações para outros lugares.

Em 1871 foi construído o ‘saladero’ San Pedro, em General Lavalle por Pedro Luro, mais tarde, Pedro Luro adquiriu outro ‘saladero’ construído por Carlos Villar, o San Carlos e o construído por Leon Amespil o San Leon. Monopolizou a produção de carne salgada e seca na região e usava o porto de Ajo como ponto de embarque. Chegou a empregar cerca de 8.000 pessoas e a abater 248.000 cabeças de gado por ano.

OS FRIGORÍFICOS PIONEIROS

Várias personalidades da política argentina e até presidentes como Rosas, já citado, e Urquiza eram proprietários de ‘saladeros’. O ‘saladero’ ‘San Luis’, foi o pioneiro a exportar carne congelada com carregamentos experimentais nos navios ‘Le Frigorifique’ e ‘ Le Paraguay’ em 1877 e no navio ‘Teviotdale’ em 1882.

Em 19 de setembro de 1876 o ‘Le Frigorifique’ (um navio frigorífico) partiu de Rouen, na França, com destino a Buenos Aires aonde chegou a 25 de dezembro trazendo, como experiência, carne congelada francesa. A carne foi inspecionada por diretores da Sociedade Rural Argentina, que notaram algumas manchas escuras e um gosto desagradável quando alguns cortes foram cozidos e servidos. O ‘Le Frigorifique’ partiu de retorno à França, repetindo a experiência e levando carne argentina. Depois de uma viagem de 104 dias aportou em Rouen em 14 de agosto de 1877. Certas porções da carne foram ‘queimadas’ pelo frio e não chegaram em boas condições. Para ser usada teve que ser efetuada uma limpeza a faca.

Numa outra tentativa, em 1877 o navio frigorífico ‘Le Paraguay’ partiu de Marselha com destino a Argentina com quatro quartos bovinos e 10 carcaças de ovinos e chegou a Buenos Aires com a carga em boas condições. No retorno, saiu do porto de Buenos Aires com um carregamento de de 5.500 carcaças de ovinos que foram carregadas quentes e congeladas à bordo, destinadas ao porto de Le Havre na França. Usava compressores de amônia de Carré, conseguindo nas câmaras frias durante o percurso uma temperatura estável de -25°C. A mercadoria chegou em excelente condição e foi usada durante uma semana no sofisticado restaurante do ‘Grand Hotel’ de Paris.

Em 1874 começaram as exportações de animais vivos para a Inglaterra. No período de cinco anos (1874 a 1879) foram embarcadas perto de 1.000.000 de cabeças de bovinos e 165.000 cabeças de ovinos.

Em 1877 os impostos sobre exportação de carne fresca foram suspensos por 5 anos, sendo em 1882 totalmente abolidos.

Em 1887 a exportação de carne seca argentina atingia 48% do total global das exportações do país, enquanto a exportação de carne congelada era de apenas 19%. A situação transformou por completo e em 1908 as exportações de carne congelada totalizaram 174.563 toneladas enquanto a de carne seca apenas 6.650 toneladas.

A EVOLUÇÃO DAS ESTÂNCIAS

O progresso da atividade estancieira foi grande e a introdução das raças européias tornou o rebanho mais rentável.

Em 1826 chegou à Argentina o primeiro touro da raça Shorthorn trazido por John Miller e ganhou o nome de ‘Tarquino’. Em 1848 foi importado o touro ‘Durham’.

Em 1862 Leonardo Pereyra importou o primeiro touro Hereford que ganhou o nome de ‘Niágara’ e em 1879 Carlos Guerrero importou um touro da raça Aberdeen Angus (que chamou de ‘Virtuoso’) e várias novilhas.

O primeiro exemplar da raça Holandesa foi importado em 1880 pelo ministro Felipe Yofré do governo de Júlio Roca (1843-1914).

Em 1884 foram desembarcados na Argentina varios exemplares da raça Shorthorn e logo em seguida outros exemplares das raças Hereford e Aberdeen Angus.

O melhoramento da qualidade do gado foi coordenado pelo ‘Instituto Nacional de Tecnologia Agrícola’ (INTA), que com a ajuda de zootecnistas de alto gabarito souberam combinar o cruzamento das raças européias com a raça existente no país. Este processo foi iniciado em 1884 e em 1895 a percentagem de gado crioulo diminuiu em 50%. No ano de 1908 apenas 9% do gado existente no país não era produto de cruzamentos com raças européias.

No período de 1889 a 1910, a Argentina importou de diversos países 18.709 cabeças de bovinos e 77.505 cabeças de ovinos de raças escolhidas para a melhoria do rebanho do país. Somente da Grã Bretanha foram importadas 12.094 de bovinos da raça Durham e 55.338 cabeças de ovinos Lincoln.

Outra importante evolução que permitiu o crescimento e o progresso das estâncias foi o uso de arame liso para dividir as pastagens. Primeiramente houve a tentativa de usar a cerca viva formada por arbustos que não surtiu o efeito necessário.

O estancieiro argentino de origem britânica Richard Black Newton, estancieiro em Chascomús trouxe em 1844 da Inglaterra, alguns rolos de arame liso e cercou a sua propriedade. A novidade se difundiu rapidamente. Em 1854, Pedro Halbach, estancieiro em Cañuelas cercou de arame também toda a sua estância. Sob o governo de Sarmiento foi concedido incentivos fiscais para a importação de arame e a maioria dos estancieiros veio a usá-lo. De 1877 a 1881 a importação de arame chegou a um montante de 55.645 toneladas o que equivalia a arame necessário para fazer 61.000 quilometros de cerca.

OS OVINOS

Quando a Argentina e o Uruguai viviam sob o poder da Espanha não era permitida a criação de ovinos para a produção de lã. Os espanhóis procediam assim para proteger o monopólio da produção de lã Merino espanhola que era muito mais cara. Em 1810, quando a Argentina tornou-se independente foi liberada a produção de lã. Os teares da Inglaterra demandavam grande quantidade de lã e não havia o suprimento necessário. Chegou a ser liberado de direitos aduaneiros a importação da matéria prima de qualquer procedência. Isto deixou o negócio de produzir lã melhor economicamente do que a criação de bovinos.

Em 1813, Henry Lloyd Halsay, estancieiro de descendência britânica importou 100 ovelhas e alguns carneiros produtores de boa lã da raça Merino da Espanha. Esta partida foi um contrabando que atravessou a fronteira de Portugal até Lisboa, sendo daí embarcada para o Rio de Janeiro e depois, com a conivência dos brasileiros chegou até Buenos Aires.

Em 1825 chegaram a Buenos Aires as primeiras ovelhas de raças inglesas, que vieram num carregamento junto com 30 bovinos Southdown.

A criação de ovelhas exigia menor área e foi inicialmente explorada pelos recém chegados imigrantes ingleses escoceses e irlandeses que tinham conhecimento da atividade.

Em 1850 a Argentina exportou para a Inglaterra, 7.681 toneladas de lã, em 1855 exportou 12.455 toneladas, em 1858 18.950 toneladas, alcançando em 1875 o total de 90.720 toneladas.
O ponto culminante da criação de ovelhas aconteceu em 1895, quando havia na Argentina um rebanho de 74 milhões de cabeças. Neste ano foram exportadas 186.548 toneladas de lã e 41.812 toneladas de carne congelada de ovinos. No mesmo ano foram exportadas apenas 1.587 toneladas de carne bovina.

O rendimento de lã cresceu 57% entre o ano de 1877 e 1908, em razão da melhoria do rebanho. Em 1877 o rendimento era de 1,58 kg por animal e alcançou 2,48 kg em 1908.

OS GRANDES FRIGORÍFICOS

As empresas americanas e inglesas de processamento de carne sempre conheceram a disponibilidade de matéria prima barata na América do Sul. Estas empresas no início do século XX instalaram abatedouros e indústrias processadoras de carnes nos pampas, usando o rio da Prata e seus afluentes navegáveis como o principal canal escoador da produção.

O primeiro frigorífico abatedouro da América do Sul foi instalado em 1882 na cidade de San Nicolas de los Arroyos, por Eugênio Terrasson. Chamava La Elisa, tinha uma capacidade de congelamento de 30 toneladas de carne por dia e câmaras frigoríficas para armazenar 500 toneladas. Em 1883 o frigorífico fez a primeira exportação de ovinos congelados no navio ‘Loch Ard’. Operou ininterruptamente até 1887, quando começou a ter problemas financeiros, terminando por ser arrendado pelo consórcio do ‘The River Plate Fresh Meat’ com a ‘Companhia Sansineña de Carnes Congeladas’ e ‘Frigorífico Las Palmas’ e mantido fechado. Em 1896 foi vendido em leilão público a um credor hipotecário em Londres.

No ano de 1883 foi construído o segundo frigorífico em Campaña que pertencia a empresa de capital britânico ‘The River Plate Fresh Meat’. Ainda em 1883 exportou no navio ‘Meath’ um carregamento de 7.500 ovinos congelados para a Inglaterra. Num período de 28 anos, de 1883 a 1910, exportou 14 milhões de carcaças de ovinos, 1,5 milhão de quartos de bovinos resfriados e 2,2 milhões de quartos de bovinos congelados.

Em 1884 a ‘Sociedade Rural Argentina’, criou a empresa ‘La Congeladora Argentina’ com o objetivo de exportar carnes congeladas. Em 1885 fez o primeiro embarque de 1.000 bovinos e 10.000 ovinos do porto de Zarate. Por problemas administrativos a empresa não teve sucesso e mais tarde foi encerrada.

No ano de 1885 em Avellaneda foi estabelecida a ‘Companhia Sansineña de Carnes Congeladas’. Começou com pequena produção até 1891, quando aumentou os abates. Em 1888 criou uma filial em Londres para comercializar a carne que exportava e a partir de 1892 também abriu armazéns frigoríficos em Paris, Le Havre e Dunquerque. Em 1902 inaugurou novo frigorífico em Bahia Blanca e em 1911 comprou o ‘La Uruguaya.’

Em 1886 foi instalado em Zárate o ‘Frigorífico Las Palmas’ de propriedade do grupo britânico ‘James Nelson and Sons’ que eram comerciantes de gado e também tinham uma vasta rede de açougues em Londres, Liverpool, Dublin e Manchester.

Em 1898 foi inaugurada no sul da Argentina, em Puerto Gallegos uma indústria enlatadora de carne da empresa ‘Patagonian Meat Preserving Co.’ de capital britânico e sediada em Londres.

Em 1900, motivado por um surto de febre aftosa ocorrido no país, a Grã Bretanha proibiu a entrada de animais vivos e de carne argentina, trazendo um grande prejuízo para a balança comercial, pois, a Grã Bretanha era o maior importador de gado em pé do país .

No período de 1896 a 1899 a exportação média anual para a Grã Bretanha foi de 80.000 bovinos e 380.000 ovinos. No dia 1° de março de 1903, com a afirmação das autoridades de ter resolvido o problema, as exportações retornaram e 110.000 bovinos foram exportados. No dia 13 de junho de 1903, com a ocorrência de novo surto ou a reincidiva do anterior, voltou a serem proibidas as exportações. Embora ruim para os criadores de gado, a proibição colaborou para os frigoríficos aumentassem as vendas de carne congelada. Em 1900 foram exportadas 76.338 toneladas e em 1903 cerca de 131.000 toneladas.

Na mesma época os maiores concorrentes foram prejudicados: ocorreu uma grande seca na Austrália, a África do Sul estava envolvida da guerra dos Boêres (1899-1903) e violentas greves em Chicago diminuíram a oferta de carne dos Estados Unidos, facilitando as vendas da carne argentina.

Em 1902 foi fundada a ‘S.A de Viandes Congelées La Blanca’ um frigorífico de capital francês situado na foz do rio Riachuelo que começou a funcionar em 1903, sendo vendido em 1908 para os norte americanos.

Em 1904 foi construído no porto La Plata o frigorífico ‘Imperial Cold Storage’ que por dificuldades de mercado foi vendido para a Swift em 1907 por 350.000 libras esterlinas.

Em 1905 foi inaugurado também às margens do rio Riachuelo o ‘Frigorífico Argentino’.

O Grupo Vestey instalou em Buenos Aires (Doca Sud) em 1927 o maior frigorífico do mundo.

Em 1932 foi criada a ‘Junta Nacional de Carnes’ que tinha como objetivo inspecionar e controlar o comércio de carnes da Argentina. Em 1934, sob a direção da Junta foi criada a ‘Corporacion Argentina de Produtores de Carne (CAP) mantida com a contribuição compulsória de 2,35% dos rendimentos dos criadores de gado. A CAP foi autorizada pelo governo federal a intervir no mercado de carne. Pelo estatuto ela também estava autorizada a exportar e importar carnes, fabricar, transportar e estabelecer mercados no exterior para os produtos argentinos. Em 1941 a CAP comprou os seus primeiros três frigoríficos, situados em Yuqueri, Rio Grande e Puerto Deseado.

Em 1933 foi celebrado o acordo Roca-Runciman que estabeleceu uma política bilateral de reduções aduaneiras entre a Argentina e a Grã Bretanha, principalmente no comércio de produtos agropecuários. Nele foi estabelecido um limite de 390.000 toneladas por ano as exportações de carne da Argentina para a Grã Bretanha, devendo 85% ser efetivada através de agenciadores ingleses. Com a assinatura, as exportações de carne bovina resfriada se mantiveram estáveis entre os anos de 1934 e 1939, na média de 350 mil toneladas por ano. O acordo também provocou grandes discussões sobre os privilégios concedidos aos ingleses e a pressão interna e externa fez com que o governo outorgasse as concessões a todos os países. Os ingleses reagiram e com isso as exportações de carne bovina congelada e da carne ovina decaíram Esta redução prejudicou os frigoríficos britânicos instalados na Argentina.

Por pressão dos criadores de gado que reclamavam dos preços de gado vivo estabelecidos pela cartelização entre os frigoríficos estrangeiros e forçosamente acompanhados pelos frigoríficos nacionais, o governo argentino decidiu investigar os frigoríficos estrangeiros estabelecidos na Argentina, pois além da cartelização reclamada pelos fazendeiros, havia muitas suspeitas de sonegação de impostos.

Houve muita resistência dos frigoríficos estrangeiros em fornecer informações. Em 1934, uma comissão do Senado composta de três membros Laureano Landaburu, Carlos Serrey e Lisandro de La Torre (1868-1939) iniciou uma investigação nos frigoríficos. Os principais objetivos era saber se os preços pagos pelo gado na Argentina estavam em linha com os pagos em outros países vizinhos (Brasil e Uruguai) e certificar se os fazendeiros tinham recebido algum beneficio da desvalorização do peso em 20% ocorrida em 28 de fevereiro de 1933.

Sete empresas estrangeiras se negaram a colaborar e a comissão recebeu autorização especial do Senado para periciar a qualquer custo os livros de contabilidade de todas elas.
Nesse processo foi preso por desacato o presidente do ‘Frigorífico Anglo’ Richard Tootell. De imediato foram descobertos num carregamento supostamente de carne enlatada para a Londres, 39 caixas de documentos da empresa. Estas caixas continham planilhas de custos, listas de preços e cópias confidenciais de memorandos internos comprometedores.
O ministério do Exterior da Argentina tentou convencer os ingleses a fornecer espontaneamente as informações para acabar com a crise e não foi atendido. O impasse só foi resolvido depois, que o dono da empresa, o próprio Lord Vestey, intercedeu, mandando um telegrama a diretoria do Frigorífico Anglo na Argentina ordenando a apresentar as autoridades argentinas, os livros contábeis e prestar todas as informações necessárias.

As empresas sucursais da Armour e Wilson continuaram negando fornecer as informações alegando que os arquivos tinham sido destruídos ou sido enviados para a matriz. Também foram punidos. A comissão do Senado encerrou seus trabalhos em 23 de julho de 1935 sem nenhuma conclusão, pois o assassinato do senador Enzo Bordabehere (1889-1935), companheiro de Lisandro de La Torre (1868-1939), esvaziou a questão.

Em 1936, o acordo foi renovado com o nome de Eden-Malbrán com a imposição de uma taxa de importação da carne argentina pela Grã Bretanha, alegando que os preços da carne no mercado britânico tinham caído, ameaçando o emprego de 1.500.000 trabalhadores que viviam da indústria . Os argentinos reafirmaram a obrigação dos frigoríficos britânicos (e todos os demais) de abrir os livros contábeis para a fiscalização do governo. Para não prejudicar os frigoríficos o governo decidiu que um terço do imposto seria pago pelo erário público, outro terço pelos criadores de gado e apenas um terço pelos frigoríficos. Em 1937 esse arranjo foi suspenso devido a recuperação do mercado de Londres. O acordo vigorou até 1948.

No final da década de 1990 a Argentina tinha 197 matadouros de bovinos aprovados pelo serviço federal de inspeção sanitária e mais cinco dezenas de matadouros que se dedicavam apenas ao abastecimento local. As cinco maiores empresas respondiam por 15% da produção nacional e por 40% das exportações. A capacidade instalada de abate em todo o país era superior a 20 milhões de cabeças de bovinos por ano, que, com um abate médio de 11,5 milhões de cabeças por ano, indica uma ociosidade de 40%.


O REBANHO ARGENTINO

No final do século XIX e começo do século XX a Argentina era o maior produtor e exportador de carne do Mundo. O rebanho bovino que em 1895 era de 13,3 milhões de cabeças chegou em 1908 a 29,2 milhões de cabeças. O rebanho ovino que era de 57,5 milhões de cabeças em 1875 aumentou para 67,2 milhões de cabeças em 1908.

No final da década de 1990 cada propriedade rural argentino que se dedicava a criação de gado tinha uma média de 184 cabeças de bovinos. Com um rebanho de até 100 cabeças estavam 60% dos criadores, com o rebanho entre 100 e 500 cabeças estavam 30% dos criadores e com um rebanho acima de 500 cabeças estavam 10% dos criadores.

O rebanho de bovinos mantém estável nos últimos 50 anos na faixa de 50 milhões de cabeças com pequenas variações. O recorde foi em 1977 quando o rebanho era de 61 milhões de cabeças.
Os rebanhos de caprinos e eqüinos mantêm estáveis, o primeiro na média de 4 milhões de cabeças nos últimos 50 anos e o segundo na média de 3,5 milhões de cabeças. Os caprinos são criados principalmente nas províncias de Neuquén e Santiago Del Estero.

De equinos são abatidos por ano uma média de 200 mil animais, cuja carne é exportada para a França, o Japão, a Itália, a Bélgica e os Países Baixos, sendo proibida a venda para o consumo doméstico.

A criação de suínos nunca foi de destaque na Argentina. Desde a década de 1950 o rebanho variou entre 3 milhões e 4 milhões de cabeças, o que permaneceu até 1985. A partir desse ano começou a decrescer chegando a apenas 1.750.000 cabeças em 2.000. O consumo de carne suína em 1996 foi de apenas 6,9 kg per capita/ano, pelo motivo dela ser cerca de 39% mais cara do que a carne bovina. As importações do Brasil (51%), da Dinamarca (18%), da Itália (10%) e do Chile (9%) complementam a necessidade para suprir o mercado interno. São importados cortes especiais e preparados de carne suína.

O rebanho de ovinos que em 1895 era de 74.379.000 cabeças chegou em 2005 a apenas 12.450.000 cabeças. Uma redução de 83% em 110 anos. Houve uma relativa estabilidade, porém desde 1960 vem decrescendo ano por ano. Também a produção de lã vem decrescendo. Em 1966/1967 foram produzidas 200 mil toneladas de lã bruta e em 1995/1996 apenas 77 mil toneladas. Tradicionalmente o rebanho ovino argentino é composto de 50% de raças produtoras de lã (Merino) ou de dupla aptidão (Corriedale, Romney Marsh, Lincoln e Criola) e 50% de raça produtora de carne (Hampshire Down).

PRESIDENTES DA ARGENTINA

• 1826 - 1827 Bernardino Rivadavia
• 1827 Vicente López y Planes
• 1827 - 1854 Governadores da Prov. de Buenos Aires
• 1854 - 1860 Justo José de Urquiza
• 1860 - 1861 Santiago Derqui
• 1862 - 1868 Bartolomé Mitre
• 1868 - 1874 Domingo Faustino Sarmiento
• 1874 - 1880 Nicolás Avellaneda
• 1880 - 1886 Julio Argentino Roca
• 1886 - 1890 Miguel Juárez Celman
• 1890 - 1892 Carlos Pellegrini
• 1892 - 1895 Luis Sáenz Peña
• 1895 - 1898 José Evaristo Uriburu
• 1898 - 1904 Julio Argentino Roca
• 1904 - 1906 Manuel Quintana
• 1906 - 1910 José Figueroa Alcorta
• 1910 - 1914 Roque Sáenz Peña
• 1914 - 1916 Victorino de la Plaza
• 1916 - 1922 Hipólito Yrigoyen
• 1922 - 1928 Marcelo Torcuato de Alvear
• 1928 - 1930 Hipólito Yrigoyen
• 1930 - 1932 José Félix Uriburu
• 1932 - 1938 Agustín Pedro Justo
• 1938 - 1942 Roberto Marcelino Ortiz
• 1942 - 1943 Ramón S. Castillo
• 1943 Arturo Rawson
• 1943 - 1944 Pedro Pablo Ramírez
• 1944 - 1946 Edelmiro Julián Farrell
• 1946 - 1955 Juan Domingo Perón
• 1955 José Domingo Molina Gómez
• 1955 Eduardo Lonardi
• 1955 - 1958 Pedro Eugenio Aramburu
• 1958 - 1962 Arturo Frondizi
• 1962 - 1963 José María Guido
• 1963 - 1966 Arturo Umberto Illia
• 1966 Junta Militar da Argentina
• 1966 - 1970 Juan Carlos Onganía
• 1970 - 1971 Roberto Marcelo Levingston
• 1971 - 1973 Alejandro Agustín Lanusse
• 1973 Héctor José Cámpora
• 1973 Raúl Alberto Lastiri
• 1973 - 1974 Juan Domingo Perón
• 1974 - 1976 María Estela Martínez de Perón
• 1976 Junta Militar da Argentina
• 1976 - 1981 Jorge Rafael Videla
• 1981 Roberto Eduardo Viola
• 1981 Carlos Alberto Lacoste
• 1981 - 1982 Leopoldo Fortunato Galtieri
• 1982 Alfredo Oscar Saint-Jean
• 1982 - 1983 Reynaldo Benito Antonio Bignone
• 1983 - 1989 Raúl Ricardo Alfonsín
• 1989 - 1999 Carlos Saúl Menem
• 1999 - 2001 Fernando de la Rúa
• 2001 Ramón Puerta (interino)
• 2001 Adolfo Rodríguez Saá (interino)
• 2001 - 2002 Eduardo Camaño (interino)
• 2002 - 2003 Eduardo Alberto Duhalde
• 2003 - 2007 Néstor Carlos Kirchner
• 2007 Cristina Fernández de Kirchner



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