HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DE GADO ENTRE OS GERMANOS

Leopoldo Costa

Os Germanos vieram das estepes do sul da Rússia fixando no norte da Europa aprox. em 2300 a.C., atravessaram o rio Elba e expulsaram os Celtas, estabelecendo entre os rios Reno e Danúbio, num território que mais tarde foi denominado Germânia.
No século IV a.C.a sua existência é registrada por Pitias de Marselha. Eram de grande estatura e louros de pele clara, olhos azuis e testa alongada.

Os Germanos compunham de várias tribos: Francos, Alamanos, Burgúndios, Suevos, Turíngios, Ciros, Jutos, Vândalos (Asdingos e Silingos), Godos (Ostrogodos e Visigodos), Frísios, Anglos, Saxões, Sálios, Catos, Sicâmbrios, Quados, Gépidas, Queruscos, Ripuários, Bávaros, Carpos, Lombardos, Teutões, Cimbros, Marcomanos, Herúlios, Bastarnos,Panônios, Saguntos, Rúgios, Alpinos, Longobardos, Suecos, Vikings, Dinamarqueses, Noruegueses e Normandos. Uma das mais importantes tribos foi a dos Francos.

Os Germanos eram pastores e praticavam uma cultura rudimentar. Muitas das tribos não conheciam propriedades particulares. A cabana era a única propriedade permitida, pois além de servir de moradia, era o templo para os deuses.

As tribos Germânicas eram denominadas de ‘Bárbaros’ pelos Romanos. O nome era genérico e classificava todos os povos que não possuíam a cultura greco-romana

Moravam em rústicas cabanas que se agrupavam em pequenas aldeias no meio das florestas, vivendo da agricultura (plantação de trigo, centeio, cevada e legumes), da criação de bovinos e de ovinos, dos quais aproveitavam a couro, a carne e o leite. Consideravam a criação de gado mais importante do que a agricultura.

Os agricultores tinham o direito de explorar uma área de terreno durante um ano e depois eram forçados a procurar terras novas para cultivar. Cada tribo dominava uma área do terreno proporcional ao número de seus agricultores e cada ano saia na busca de novas terras mais férteis.
Todo o trabalho era efetuado pelas mulheres, cabendo aos homens apenas a pilhagem de gado, a caça, a pesca e a guerra.

As tribos eram organizadas em clãs (‘sipe’) que agrupavam as famílias por laço de parentesco. Eram os clãs que escolhia o chefe da tribo.
O individuo só existia dentro de sua comunidade e se cometesse algum delito poderia ser julgado e expulso.

A família era a célula básica e chefiada pelo pai que detinha o poder absoluto (‘mund’) sobre as mulheres (podiam ter mais de uma embora o mais comum fosse a monogamia, devido o custo do dote) e os filhos. O homem para casar tinha que ‘comprar’ com um dote as suas mulheres. O dote era de armas e bois. Depois de ‘compradas’ eram sua propriedade pelo resto da vida.

Aos 15 anos os meninos eram emancipados do poder pátrio. Tinham o cabelo cortado na frente de todos os guerreiros da tribo e recebia uma arma de seu pai.
As tribos germânicas eram um conglomerado sem unidade política, não formavam um estado. Não construíram cidades e nem pontes sobre os cursos d’água. A ligação que tinham entre si era a língua, mesmo assim com vários dialetos. Usava como armas o gládio, espada curta de dois gumes; a ‘framea’, lança curta; a lança comprida e um escudo. Em época de guerra os homens elegiam um general que chefiava a tropa que em latim era conhecido como ‘comitatus’.

A sociedade era dividida em homens livres, guerreiros e escravos. Não existia a casta de sacerdotes. Entre os homens livres eram escolhidos alguns para exerceram a função.
Os chefes de família eram responsáveis pelos rituais e sacrifícios domésticos. Adoravam deuses representando as forças da natureza, sendo o principal Odin (ou Wotan), o deus da tempestade e Thor (ou Donar), o deus do trovão que com o seu martelo batia nas nuvens provocando trovoadas e raios.

Freyja, a esposa de Thor era a deusa da fecundidade e Tiwaz (Tyr) o deus que comandava o céu e dirigia as assembleias.
O culto era realizado no alto da montanha sagrada, junto a uma árvore ou uma fonte ou nas florestas.
Acreditavam na vida após a morte e que apenas aqueles que morriam em combate poderiam ir para o paraíso, que denominavam Valhala. As Valquirias, deusas guerreiras, recolhiam na terra os combatentes mortos e os levavam para este paraíso. Por isso os romanos ficaram muito impressionados com a bravura dos germanos nas batalhas. Quem não morresse em combate, iria para o reino de Hell, eternamente gelado e escuro.

Na mitologia germânica também existiam muitos gigantes maus e anões que trabalhavam em minas e eram hábeis forjadores de metais. Foram popularizados no mundo todo como personagens de histórias infantis coletadas pelos Irmãos Grimm.

Uma das mais antigas fontes de referência sobre os germanos é a obra ‘De Origine et situ Germaniae’ ou simplesmente ‘Germania’ de Cornélio Tácito (?55-?117) escrita em 98. Ele escreveu: ‘Os cavalos (do exército germano) não primam pela elegância do porte nem pela agilidade e nem tampouco são treinados na variação dos movimentos (ou manobras) como é usual entre nós. Adestram-nos a avançar em frente ou a voltar à direita, em linha tão compacta que nenhum pode ficar para trás.’
Ele classificou o povo germano como descendente dos três filhos de Mannus (homem): ‘ingaevones’, ‘herminones’ e ‘istaevones’.
Outros antes dele já fizeram alguma referência sobre isto, como Estrabão em 18 a.C., Plinio, o Velho em 79 e Ptolomeu em 150. Plinio o Velho, por exemplo, dividiu os germanos topograficamente em cinco grupos: ‘vandili’,’ ingvaeones’, ‘isthaeones’, ‘hermiones’ e ‘peucini’.

Foi Posidônio1 em 80 a.C. que deu o nome de Germanos para esse povo e Júlio César (100-44 a.C.), que na sua obra sobre a guerra da Gália do século I a.C., quem popularizou o nome.  Eles próprios não se chamavam assim e só no século VIII é que passaram a se autodenominarem ‘Deutsche’ que significa ‘gente do povo’. Chamavam os outros povos de ‘walha’.

Estudando os achados arqueológicos se chegou à conclusão que principalmente entre os rios Reno e Elba, houve um crescimento populacional acima do suportável pelos meios de produção, o que obrigou os jovens a buscar sobrevivência em outras paragens, forçando-os a pegar em armas e sair fazendo conquistas para ganhar o seu espaço.

Os Bastarnos e os Címbrios foram os que primeiros a emigrarem para sudeste, alcançando a costa meridional do mar Báltico e dali até as estepes da Ucrânia.
Os Godos, Vândalos e Burgúndios também seguem esse caminho.
Os Cimbros penetraram na Europa central, aproveitando do vácuo deixado pelos Celtas.

A beligerância entre as tribos Germânicas deixaram uma longa história. Entre 113 e 101 antes de Cristo houve a guerra de Mário contra os Germanos-Cimbrios e Teutões que ganharam dos Romanos na Panônia e em Aráusio, mas foram derrotados em 102 a.C. em Aquae Sextiae e em Campi Rodii em 101 a.C.

Em 58 a.C os Germanos sobre o comando de Ariovisto, tentaram invadir a Gália setentrional, que pertencia ao império Romano, mas foram rechaçados por Júlio César (100-44 a.C.) que em represália, atravessou o reino para atacar em 55 a.C. os Germanos-Saguntos.

Entre 16 e 14 antes de Cristo, Augusto organizou expedições punitivas que atacaram os Germanos-Alpinos, Panônios e Marcomanos.

No ano 9 da nossa era, numa batalha na floresta de Tautenberg, o general Germano Arminio atacou e derrotou três legiões de Romanos comandadas por Públio Varrão. Em represália foram realizadas incursões romanas de Druso, Tibério e Germânico entre os anos de 10 e 12. Germânico inclusive organizou ataques aos germanos no rio Elba e no rio Danúbio entre os anos de 14 e 37. Depois foram Domiciano (entre 161 e 176), Caracala (entre 213 e 214) e Máximo (entre 235 e 238).

Em 251 o imperador Máximo foi morto numa batalha contra os germanos-godos e em 258 os germanos-alamanos atacaram Milão e foram expulsos pelo imperador Galieno.
Entre 268 e 284, Cláudio II, Domício Aureliano e Marco Aurélio Probo enfrentaram os Germanos e os venceram, apesar do segundo ter sofrido e conseguido reverter uma derrota em Piacenza.

Em 310, o imperador Constantino venceu os Germanos e em 332 estabeleceu um tratado de paz que durou até 357, ano em qual Juliano (mais tarde denominado o ‘Apóstata’) repeliu uma investida e venceu os Germanos em Estraburgo.

Em 378, o imperador Valente morreu na batalha de Adrianopolis lutando contra os Germanos-Godos e logo depois foi feito um pacto de convivência pacífica (phoedum).

Várias tribos germânicas resolveram usar outras táticas para conseguir infiltrar no Império Romano. Justificando que eles poderiam auxiliar no sistema de defesa conseguiram a permissão de Roma para ocuparem as terras da margem esquerda do rio Reno. Essas tribos que passaram a habitar a margem esquerda, foram as que receberam maior influência da cultura romana. Esta influência foi tão marcante, ao ponto da gramática alemã absorvesse até as declinações do latim.
A cidade de Colônia2 foi a capital da Germânia. No decorrer do tempo, como aconteceu com as tribos das margens do Reno, várias outras aliaram ao império Romano e receberam propriedades para cultivar e desenvolver as suas criações de ovinos e bovinos.
Muitos guerreiros germanos foram convocados pelos romanos para as suas tropas e um deles foi Flávio Estilicão3 que chegou a ser um general bem influente do império, combatendo os Visigodos liderados por Alarico e dominando revoltas no norte da Itália e na África.

No final do século IV e durante o século V, a situação alterou-se radicalmente. Doravante não seriam mais simples desavenças de fronteiras que envolveriam Romanos e Germanos.
Germanos de quase todas as tribos marcharam em massa para conquistar Roma. Estima-se que quase seis milhões deles penetraram por todos os lados, esparramando-se pelas províncias do império. Não havia mais nenhum tipo de resistência que os Romanos pudessem-lhes antepor.

Em 405, começou uma ofensiva generalizada dos germanos-godos, vândalos e alanos sobre as fronteiras ocidentais do império romano atacando a Gália, a Itália e a Ilíria.
Em 410, Alarico o chefe dos Germanos-Godos atacou e conquistou a cidade de Roma.
Em 425, os Godos, Burgúndios, Suevos, Francos e Saxões invadiram a Gália, a Aquitânia, a Ibéria e a Britânia.
Os Vândalos que viviam da pirataria e de saques4 estabeleceram ao sul dos Pirineus, na atual Andaluzia (cujo nome original era Vandaluzia).

Em 439, foram atacados e expulsos pelos visigodos, atravessaram o mar Mediterrâneo e se estabeleceram no norte da África, fazendo de Cartago a sua base.
Foi daí que Genserico partiu para atacar Roma em 455, ficando durante 14 dias barbarizando a cidade, arrecadando tudo de valor que encontrava e destruindo aquilo que não podiam carregar.

Em 533, os Vândalos foram definitivamente aniquilados pelos Bizantinos.

No final do século V cerca de 300 mil Ostrogodos procedentes do oriente com as suas carroças puxadas por cavalos carregando todos os seus bens e acompanhados por seus animais, conquistaram a Itália.
Eram liderados por Teodorico, que também comandava um exército de 50 mil soldados que para essa conquista foi enfrentado e teve que combater e expulsar os Hérulos.
Um edito de Teodorico estabeleceu um período de paz, pois, equiparava os direitos e deveres dos Romanos e Ostrogodos. Os Ostrogodos ficavam com as obrigações militares e os Romanos com as obrigações administrativas.

Na época existiam imensos latifúndios pertencentes aos ricos Romanos que foram divididos em áreas menores e entregues aos agricultores para serem aproveitadas. Aumentou a produção de grãos e também a criação de bovinos, ovinos e equinos.
Depois de 20 anos de guerra, em 555, o imperador romano do oriente Justiniano (482-565) recuperou a Itália expulsando os Ostrogodos.
Debilitados, em 475 os Romanos reconheceram o domínio Germânico sobre as ilhas do mar Tirreno, Ibéria e Gália e logo depois em 476, o general Odoacro, Germano-Herúlio que servia como mercenário ao exercito Romano, destituiu o seu comandante e num golpe militar depôs o imperador Rômulo Augusto, terminando com a autonomia do império Romano sediado em Roma, que passou a ser subordinado ao governo de Bizâncio. Este fato marcou o final da Idade Antiga.



1 No seu livro que está desaparecido temos uma citação de Ateneu em que ele disse: ‘Os Germanos à tarde servem à mesa carne assada com leite, e bebem seu vinho não diluído’.
2 Fundada em 59 como Colonia Agripina, em homenagem a mãe de Nero chamada Agripina, que nasceu na cidade.
3 Executado em 408 a mando de Honório de quem após a morte de Teodósio em 395 tinha sido seu regente, por intrigas de seus companheiros.
4  Eram tão violentos que a palavra ‘vândalo’ veio a ter o significado de ‘destruidor’.




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